“Sem pé nem cabeça”
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Se nunca viram, que seja agora – iniciar-se uma crônica sem título. Entrará este no meio ou no final.
Por rasura-se depois, em tempo.
Somente uma ressalva: a de a gente se esquecer…
Seja dito de começo, errado. Muito errado vir aqui sem antes cogitar-se do que dizer.
Ninguém sabe nem vê, que estas mãos para lá de octogenárias, ah os dedos dela, teimam em não me obedecer.
De saída e principalmente, sentida homenagem póstuma ao capitão Cintra que, como diretor adjunto, fora captador ímpar de publicidade, a permitir a este jornal auto suficiência por quatro anos.
Tenho certeza de que os leitores- será que alguém ainda me percebe aqui apenas de trinta em trinta dias – esvaíram-se, contrariamente Àquele passado de crônicas semanais, adjuntas também do comentário dos evangelhos, este do qual me declarei inapto e mesmo assim o saudoso Monsenhor Camilo não aceitou minha consciente escusa.
Apesar de todas essas lamúrias e escusas, entendo se leitores desistirem de ficar comigo, porque paciência tem limites. Que seja.
E para esmorecer mais ainda, o São Paulo chafurda na classificação. Já, sobre o Ituano, confesso que não acampam de perto…
Estou conformado, quanto ao chavão inutilmente repisado de que se libere a Floriano, do Carmo ao Bom Jesus, do trânsito de veículos: um imenso calçadão, até com mesas e cadeiras. Um dia irão lamuriar porque tal sonho não se fizera antes
Hum… e os veículos? Perguntem a Curitiba…
A festa japonesa se ombreia à da Candelária ou esta àquela. Favorecida a cidade como tal e paraíso dos turistas, nossa também, obviamente. Tradição, já se diga, no calendário local.
Mas, um detalhe: ousei subir sozinho, desprovido da bengala. Duas quadras e meia, subida, de casa até o jardim do Carmo. Dolorosa constatação de minha fraqueza. A cada “meia quadra”, descanso para retomar o fôlego. Saíra escondido, sem aviso. Isso; além do constrangimento antes os passantes, ao me verem parado, por nada. Alguns, depois de se adiantarem um pouco, olhavam para trás…
Vejo-me contingencialmente licenciado das academias de letras de Itu e de Salto, circunstância deveras penosa. Levado a São Paulo, para receber a carteira de nacionalidade italiana, lá em cadeira de rodas, constatei na volta como estou alienado a fotos e costumes, a ouvir meu filho e mais meu sobrinho, conversarem sobre todos e tudo, no banco da frente…
Perdoem. Isto está parecendo a um confessionário.
Tranquilize-se, porém, porque além deste palavrório não vou impor penitência o invejo ao constatar, como são muitos os excursionistas que não se prendem ao avanço da idade e como giram por este mundo de Deus. Sim, já o fizera eu antes, aqui e no exterior, o que mais ainda me angustia.
Ah, ah, ah… semelham estas considerações a uma lamúria sem fim.
De meu semblante sério demais, a esconder, pelo contrário, a ânsia, na tentativa, senão da retomada de afazeres mais amenos, porém ainda cabíveis.
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Essa primeira parte ai acima, fora redigida na parte da manhã, de ontem, dia 23 e só prossegue já na madrugada, de 24, após o vexame do Brasil, que não foi além de um mísero empate com a Costa Rica.
Perdi o sono e por isso não me responsabilizo pela que diga na continuidade da divagação, daqui para frente. Aliás tampouco do que expressei de manhã. Desconfio de que esteja meio assim, assim.
Registra-se com pesar, o falecimento do insigne capitão Cintra que, com direito adjunto nesta casa, além de outros préstimos, costumava angariar significativa publicidade para este semanário. Descanso para sua alma.
Deixem que lhes diga de novo. E sinceramente. Saberei sim, repto, se o fastio ocorrer com esta conversa desordenada. Esteja à vontade.
E tomara que, se houver leitores teimosos ou pacientes, vou um pouco mais adiante. Não levanto a cabeça para não ver o relógio.
Uma constatação dolorosa: o retorno impetuoso da inflação. Prestem atenção na rua Floriano a sequência de estabelecimentos comerciais fechados, fenômeno repetido na rua Santa Rita.
Durante uns quinze anos, estivera eu sob os cuidados de um competente cardiologista em Campinas, que mantinha um receituário de dezoito a vinte remédios diários, que eu estranhava, mas aos quais obviamente obedecia e dos quais a Flávia não se esquecia, conquanto uns oito anos mais novo, viera a falecer.
Para a indispensável continuidade, passei a ser atendido por cardiologista mais novo, porém de Sorocaba. Contara com a certeza de ser liberado de tantos remédios. Este, confirmou-os todos.
De um mal súbito, após desmaio em casa, há cerca de dois anos, acabei hospitalizado às pressas, em Sorocaba. Só acordei no dia seguinte. Fora um suplício, ansioso por voltar logo, mas tive alta depois de dez dias. O médico me deu a boa nova, mas acrescentou: quando você chegara naquela noite, pensei que ia morrer…
A madrugada já vai alta.
Ah, sim. E título para esta baboseira? Se alguém pretender jogá-lo lá para cima, fique à vontade. Por mim, fica aqui embaixo mesmo, na forma de esteio.
Está aí:
“Sem pé nem cabeça”