Santa Catarina de Sena, inspiração para os leigos defensores da Fé
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A recente festa de Santa Catarina de Sena, a 29 de abril (no calendário tradicional, dia 30), leva-nos a uma profunda reflexão sobre o momento atual vivido pela Igreja, especialmente no nosso tão conturbado Brasil. Leiga da Ordem Terceira de São Domingos, Santa Catarina é uma das maiores figuras da Igreja, declarada co-padroeira de Roma, da Itália e da Europa, além de ser uma das primeiras mulheres a receber o título de “Doutora da Igreja”, concedido pelo Papa São Paulo VI em 1970, pela “peculiar excelência de sua doutrina”.
Catarina era uma mulher de fibra, lembrada inclusive por haver repreendido um papa. Apesar de jovem e praticamente analfabeta, possuía uma sabedoria fora do comum, graças à enorme intimidade que tinha com Deus, e, por isso, seu conselho passou a ser valorizado por grandes figuras medievais como reis, papas, cardeais e bispos.
Em pleno final da Idade Média, no século XIV, a Igreja vivia um período muito difícil, em que o papado, devido a circunstâncias políticas desfavoráveis na Itália havia sido transferido de Roma para Avignon, na França. A situação, que em princípio era para ser provisória, já durava 70 anos. Catarina, então, vai até Avignon para convencer o Papa Gregório XI a retornar a Roma, pois a Itália enfrentava violentos conflitos internos e era necessário alguém que, de fato, a governasse e garantisse a unidade da Cristandade. Assim, em janeiro de 1377, Gregório retornou a Roma com seus cardeais, deixando Avignon para sempre.
Pouco tempo depois, em 1378, houve uma grande divisão na Igreja, que ficou conhecida como “Cisma do Ocidente” pela existência de dois papas rivais disputando o poder: Urbano VI e Clemente VII. Para pôr fim à confusão e desorientação dos fiéis, Catarina decidiu intervir novamente. Após várias cartas aos líderes da Igreja, pedindo-lhes que buscassem a unidade e o bem dos fiéis, escreveu diretamente a Urbano VI, repreendendo-o por seu comportamento autoritário e pela falta de humildade em seu papado e pedindo-lhe que mudasse de atitude, buscando a vontade de Deus e a orientação de seus conselheiros.
Santa Catarina – lembre-se – era uma leiga! Além de ser uma jovem mulher de apenas 29 anos que, como tal, com certeza não contava com grande credibilidade em sua época. Mesmo assim, sua coragem e grande amor a Deus foram decisivos para alterar os rumos da história da Igreja, inclusive desafiando a própria hierarquia.
Nas últimas décadas, muito se vem incentivando a participação e voz dos leigos na Igreja. A exortação apostólica Christifideles laici, de São João Paulo II, e outros tantos documentos o atestam. Porém, com o que a Igreja não contava, especialmente no Brasil, é que uma quantidade cada vez maior de leigos enveredasse para um caminho mais ortodoxo da religião e da Fé. Enquanto nos anos 60 e 70 o envolvimento do laicato se restringia à militância revolucionária nas CEBs, CPT e outras pastorais de orientação eminentemente marxista, bem na linha da teologia da libertação hoje empunhada pela maioria do episcopado brasileiro, estava ótimo. Mas quando jovens leigos passaram a defender a vida de oração, a doutrina católica tal como se encontra no catecismo, a reza do terço, a adoração eucarística e até a missa no rito tradicional, as coisas parecem ter saído um pouco dos planos.
Quando eu era adolescente, havia em Itu – e quiçá na diocese de Jundiaí – os padres jesuítas do Bom Jesus e o franciscano Frei Alípio a usarem batina, todos idosos. Hoje, há pelo menos uma dúzia na diocese… todos jovens. Naquela mesma época, havia algumas poucas idosas que usavam véu na cabeça durante a missa e nenhuma jovem; hoje, várias jovens e adolescentes o adotam… e nenhuma idosa. São tempos em que se nota um despertar dos leigos para o espiritual, para o sagrado, para uma vida de verdadeira união com Cristo e de fidelidade à Igreja. Não nos esqueçamos que a presepada envolvendo a negativa de comunhão na boca e de joelhos pelo bispo auxiliar de Belo Horizonte, em agosto de 2023, não envolveu um idoso, mas uma jovem crismanda.
É claro que essa tendência dos leigos, por assim dizer, conservadora, somada ao “arrojamento” de muitos que atualmente se utilizam dos meios de comunicação e redes sociais para a defesa da doutrina católica, da Liturgia, da Tradição e da moral cristã vem incomodando. Tanto que, seguindo uma tendência de regulação da internet praticada em países de regime totalitário, a CNBB já discute uma forma de também regular o que chama de “carisma digital”, isto é, o cada vez mais crescente número de influenciadores católicos que atingem milhões de pessoas diariamente, como afirmou o Pe. João Carlos Almeida, o Pe. Joãozinho, ao SantoFlow Podcast em julho de 2023. Alguém duvida que o foco dessa censura, digo, regulação serão as pessoas que não leem na mesma cartilha ideológica da Conferência Episcopal?
Santa Catarina de Sena inspire esses bravos leigos a continuarem, a seu exemplo, a serem intrépidos defensores da Fé, da doutrina e da moral cristã, mesmo que isso implique em confrontar – sempre na caridade – aqueles a quem caberia essa defesa por força do ministério.