A paz é  artesanal
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A frase não é nova, nem é de um único autor. Muitos já a disseram em vários lugares, em várias línguas e em várias épocas e contextos. Mas não há dúvida que faz pensar…
Desta vez foi dita pelo Papa Francisco. Na verdade, escrita. Faz parte da introdução de um livro lançado na última semana, por ocasião da visita do Papa à cidade de Verona, na Itália. “Justiça e paz se beijarão” é uma antologia de textos e reflexões sobre o tema bastante atual da relação entre justiça e paz. Publicado pela Livraria Editora Vaticana e L’Arena, foi distribuído gratuitamente durante a visita do Papa à cidade, no sábado, 18 de maio.
“A paz é artesanal. Não é construída apenas pelos poderosos. Também nós construímos a paz, em nossas casas, na família, entre os vizinhos, nos lugares onde trabalhamos, nos bairros onde vivemos” – diz Francisco em seu texto.
Não é que o Papa Francisco queira minimizar a importância dos tratados de paz feitos entre nações e governos de todo o mundo. Ele quer, na verdade, destacar o papel de cada um de nós na construção da paz o que começa pelas pequenas coisas.
Realmente não é um conceito novíssimo. A ideia de “artífices da paz” é bastante difundida em todo o mundo e está muito ligada aos princípios do cristianismo.
Não há dúvida que os governantes precisam estabelecer relações de paz entre as nações. O mundo está em guerra em diversos lugares e os conflitos precisam ser resolvidos, para que a paz possa voltar a existir. Mas é fato também que vivemos em guerra todos os dias em pequenas situações do cotidiano. Não raros, pequenos conflitos têm se tornado grandes enfrentamentos, chegando muitas vezes à perda de vidas. Situações causadas por motivos que, com a “cabeça fria” consideramos banais, mas que o “sangue quente” acaba levando um ser humano a tirar a vida de outro ser humano.
O noticiário está cheio dessas situações. Ficamos sabendo das mais catastróficas, as mais midiáticas. Mas muitas delas passam desapercebidas, conhecidas apenas por quem as está vivenciando. Ser pequenas não significa que não possam causar danos. Por isso, merecem atenção de todos nós.
Nós, cristãos, somos chamados a sermos artífices, construtores da paz. A paz das pequenas coisas, dos pequenos relacionamentos, das pequenas situações do nosso dia a dia. Como fazer isso?
“Podemos construir a paz ajudando um migrante que está mendigando na rua, visitando um idoso que está sozinho e não tem com quem conversar, multiplicando os gestos de cuidado e respeito para com o planeta Terra, tão maltratado pelo nosso egoísmo explorador, acolhendo cada criança não nascida que vem ao mundo”, diz o Papa Francisco.
Mais que nunca, a escuta, a reflexão e a oração são necessárias para podermos perceber a situações em que podemos agir, de acordo com o Evangelho e inspirados pelo Espírito Santo.
Não é fácil. Afinal, a paz não se encontra pronta e nem é produzida em série. Somente com a paciência de um artesão poderemos promover, preparar, cuidar e vivenciar a paz. Lembro de uma canção franciscana que aprendi há muitos anos: “Se você quiser servir a Deus, faça poucas coisas, mas as faça bem! Pedra por pedra…”