Olga Sodré
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Conheci a Dra. Olga Sodré logo após o falecimento de seu pai, Nelson Werneck Sodré, cujo sepultamento acompanhei, em 1999. Olga morava em Paris e passou a vir ao Brasil para estadas no Rio de Janeiro e Itu e, assim, fazer companhia à mãe, d. Yolanda Frúgoli, de tradicional família ituana.
Olga desejava conhecer os interessados na cultura artística e das letras em Itu. Eu sabia que ela era psicóloga graduadíssima, professora na Universidade de Paris, mas pouco conhecia dos seus interesses. Fomos nos aproximando mais e percebendo assuntos comuns, afinal, quando aluno no curso de História, estudei a obra gigantesca de Nelson Werneck, notável dentre os intérpretes do Brasil. Demorei a relacionar o autor de “Formação Histórica do Brasil” ou “Introdução à Revolução Brasileira” àquele senhor que passeava com a elegante esposa pelas ruas centrais da cidade.
Em 2011 a Dra. Olga tomou a iniciativa de celebrar o centenário de nascimento de seu pai em âmbito nacional e local. Tornou públicos os direitos de edição da vasta obra dele, bem como doou à Biblioteca Nacional a documentação a ele relacionada, gestos que permitem conhecê-lo melhor e reeditar os livros sem restrições hereditárias. Em nossa terra, junto ao Instituto Cultural de Itu, criou-se o ISEB Nelson Werneck Sodré, para promover publicações e discussões sobre a sua obra. Os propósitos foram bem realizados, resultando em duas publicações e um movimento importante nos meios digitais, inclusive discutindo o papel da imprensa, tema que interessava a Nelson Werneck e à sua filha.
Desde então, o empenho de Olga Sodré em divulgar os trabalhos do pai foi grande; mas ela também escreveu muito sobre temas da atualidade, maioria publicada neste semanário. Ela era uma figura lúcida, sumamente capaz de interpretar os esquisitos tempos atuais à luz da psicologia, das ciências sociais e políticas e da espiritualidade. Neste campo ela atuou muito, sobretudo no diálogo inter-religioso cristão-budista. Viveu algum tempo no Tibete e conheceu a filosofia oriental e a meditação como caminhos à vida interior.
Católica praticante, Olga vivia entre as paróquias São Paulo Apóstolo (Rio de Janeiro) e Nossa Senhora Candelária (Itu). Para alguns, talvez, ela tenha sido somente uma senhora exótica, de vestes coloridas, presente na região central da cidade. Os que a conheceram de perto, puderam perceber a grandeza de seus propósitos, a riqueza de sua erudição e a capacidade de compreender o mundo.
Dois projetos ainda nos fizeram próximos. O primeiro foi a formação de um grupo de estudos da música sacra, liturgia e o repertório do Canto Gregoriano; assim nasceu a Schola Cantorum de Itu em 2014, muito atuante na vida da Igreja; outro foi a criação da Cadeira Nelson Werneck Sodré junto à Academia Ituana de Letras, para fincar raízes da presença dele em Itu, hoje ocupada pelo historiador Luccas Maldonado.
Dentro de todo o seu universo intelectual, Olga Sodré ainda buscou harmonizar as obras de seu pai, confesso marxista, à espiritualidade que ela vivenciava. Ligada à Abadia de Nossa Senhora da Paz, em Itapecerica da Serra, Olga entregou os seus últimos anos aos exercícios da vida interior com a jovialidade que marcou a sua vida.
Falecida no domingo, dia 26 de novembro, dez dias antes de completar 83 anos, ao seu féretro estiveram presentes as monjas beneditinas, tendo à frente, a Abadessa Martha Lúcia, amiga e guia, maior testemunha da grandeza de Olga Regina Frúgoli Sodré.
No sábado, dia 02 de dezembro, a Schola Cantorum participará da Missa de Sétimo Dia, celebrada na Igreja de Nossa Senhora do Carmo, às 18 horas, entoando o Canto Gregoriano que ela fez renascer em Itu.

Gratidão!