Madre Teodora parte para o Brasil (1)
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Amável ouvinte! Já vimos na semana passada algo a respeito da vinda das beneméritas Irmãs de São José a Itu. Prosseguiremos hoje, levados pelas asas da saudade a um século atrás, para vermos confirmadas antigas profecias.
Alguém, apontando o lugar onde agora se ergue o Colégio do Patrocínio, vira, em sonho, uma porção de moças vestidas de preto, chegadas de outras partes do mundo. Ao seu redor pastavam carneirinhos muito brancos, e do alto do céu, a Virgem Maria estendia sobre todos o Seu manto azul, estreitando-os num doce amplexo.
Um velho franciscano, sempre que por ali passava, batia com seu bastão o solo, afirmando: “Aqui será Deus, um dia, muito bem servido.”
“Visionários, sonhadores” terão dito os que os ouviam prenunciar tais coisas. E, no entanto, ao raiar o dia 5 de outubro de 1858, o grande sonho torna-se realidade palpável.
Ao bimbalhar de sinos e espocar de rojões, Dom Antonio Joaquim de Melo reza o Santo Sacrifício da Missa, em ação de graças pela chegada das missionárias. No seu zelo ardente de pastor bondoso, implora a Deus desçam copiosas bênçãos do céu sobre as abnegadas e intrépidas jovens, a quem somente o amor divino dará forças para a imolação total de suas vidas.
Com a esperança a povoar-lhes o coração, iniciam logo o aprendizado da gramática portuguesa, a fim de poderem cumprir a missão que as trouxe ao país dos sabiás… Dentro em pouco, ei-las já familiarizadas com o Novo Mundo. Quatorze brasileirinhas, em uniforme azul e branco, são confiadas aos seus cuidados e desvelos maternais… felizes meninas a receber as primícias de seu apostolado… À tarde, ecoam pelas adjacências do Colégio as doces canções de além mar, entoadas por mestras e alunas a brincarem de roda, numa gostosa confraternização de duas pátrias estremecidas…
Dirige o grupo a Irmã Maria Justina, enquanto aguardam a nomeação de nova superiora.
Na distante Chambéry, alguém suspira profundamente, e sente tomar vida novo sentimento, não mais de repulsa pelo país desconhecido, mas um desejo ardente de amar a cruz e fazer algo pela causa de Deus. Todas as manhãs, ao fazer a Jesus o oferecimento de si mesma, pede que nela e por ela se cumpra a vontade divina. Sua prece é atendida, e uma noite, na capela da Congregação, ouve distintamente a voz do Mestre a lhe murmurar: “É preciso que sejas sacrificada para a minha glória. O Brasil será teu campo de batalha; lá é que eu quero teu espírito, teu coração, teu corpo.”
Um “sim” generoso firma nesse momento o pacto solene e indissociável entre Jesus e Madre Teodora. A serva espera apenas que a Superiora Geral venha lhe reiterar e confirmar o pedido do céu. Duas semanas após, Madre Felicidade aproxima-se e lhe revela: “Desejava muito guardá-la aqui, mas parece-me que Deus a quer em terra longínqua. Irá para o Brasil.”
“Eu sei, minha Mãe. Nosso Senhor e eu já nos entendemos sobre isso!”

16 de março de 1957

Maria Cecília Bispo Brunetti
Acervo – Museu
da Música – Itu