A morte não  é o nada
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No dia de Finados, a Igreja convida-nos a voltar nossos olhares a diversos rostos que encerraram sua caminhada entre nós, e nos precederam rumo a pátria celeste. Neste dia, vamos ao cemitério rezar pelas pessoas queridas, que nos deixaram, é como ir visitá-las e dizer que continuamos tendo muito carinho, admiração e amor, recordando assim, o que passamos com elas. Não é um dia de tristeza, mas sim de grandes saudades.
No cotidiano de nossa sociedade, a morte é tratada como um tema bastante obscuro, quase proibido de se falar, pois causa para alguns muitos medos e incertezas. O afastamento de Deus, faz com que muitos não enxerguem na morte um caminho de eternidade e esperança junto a Deus, mas sim, o fim. Se perguntarmos para algumas pessoas, qual o sentido da morte, grande parte vai dizer: que a morte não tem sentido, pois é o nada, o fim, o término da vida. Outras dirão que temem a morte por não saberem o que há depois dela, possuem o medo do desconhecido.
Infelizmente a falta de conhecimento sobre a vida eterna junto a Deus e o apego a esta vida terrena, constroem o medo perante a morte, e com isso, faz com que muitas pessoas se aproximem de ciências experimentais empíricas e, desta forma, entre em contato com doutrinas de reencarnação, as quais buscam como forma de consolo, o contato com o mundo para além da morte, construindo uma imagem que se assemelha muito com a vida presente. O Papa Bento XVI no Angelus de 05 de novembro de 2006, afirma que: “Morrer, na realidade, faz parte do viver, e isto não só no fim, mas, considerando bem, em cada momento. Apesar de todas as distrações a perda de uma pessoa querida leva-nos a redescobrir o ‘problema’, fazendo-nos sentir a morte como uma presença radicalmente hostil e contrária à nossa vocação natural para a vida e para a felicidade”. O Catecismo da Igreja Católica (CIgC) também nos fala que: “ Graças a Cristo, a morte cristã tem um sentido positivo. ‘Para mim, a vida é Cristo, e morrer é lucro’ (Fl 1,21) ‘Fiel esta palavra: se com ele morremos, com ele viveremos’. (2Tm 2,11). A novidade essencial da morte cristã está nisto: pelo batismo o cristão está sacramentalmente morto e ressuscitado com Cristo, para viver uma vida nova; e se morremos na graça de Cristo, a morte física consuma este morrer com Cristo e completa assim a nossa incorporação a ele no seu ato redentor”. (CIgC 1010)
Assim, se reduzirmos o homem apenas em horizontalidade existencial, tiramos dele o profundo sentido da vida, pois perde-se a esperança da vida eterna com Deus. O sentido da vida do homem só é encontrado a partir da existência de Deus, como nos diz Cristo através do Apóstolo São João: “Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá”. (Jo 11,25-26)
Jesus Cristo ao vivenciar a morte, revoluciona o sentido da morte, pois a Sua ressurreição destrói a morte e nos faz nascer para uma vida nova em Cristo, com isso, Jesus dá novo sentido à vida do homem. Assim, quem se compromete a viver essa vida nova, que recebemos em nosso batismo, vive com Cristo, liberto do temor da morte. “Na morte, Deus chama o homem para si. É por isso, que o cristão pode sentir, em relação à morte, um desejo, semelhante ao de São Paulo Apóstolo: ‘o meu desejo é partir e ir estar com Cristo’ (Fl 1,23); e pode transformar a sua própria morte em um ato de obediência e de amor com o Pai, a exemplo de Cristo” (CIgC.1011) .
Neste dia em que a Igreja se dedica aos Fiéis Defuntos, percorramos os túmulos dos nossos amigos e entes queridos, renovando a nossa fé na vida eterna, vivendo essa grande esperança e acabando com a cultura do nada e do fim. É a fé na vida eterna que faz com que o cristão ame mais o próximo e construa uma vida com mais caridade, justiça, fraternidade e perdão. Não tenhamos medo da morte física, mas sim da morte da alma.