Nhanhã Bauer e a música em Itu
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A fim de revelar novos personagens à história da música local, fortemente marcada pela atuação de homens, há doze anos o Museu da Música publicou o Caderno “Presença feminina na música sacra em Itu”. Já citada naquela publicação, a pianista Maria Augusta da Costa Bauer novamente é rememorada em seu sesquicentenário de nascimento. Filha do compositor Tristão Mariano da Costa e da cantora Maria Augusta da Silva Prado, a primogênita veio ao mundo a 14 de setembro de 1873 em Itu. Os pais se conheceram dois anos antes, quando ela fora aluna dele na escola de música da paróquia de Nossa Senhora Candelária, naqueles tempos de inacreditável fazer musical em Itu.

O apelido Nhanhã ficou para toda a vida, desde a infância, quando a menina compunha dupla com o irmão, oito anos mais moço, homônimo do pai, que se tornou Nhonhô Tristão (1881 – 1935). Formaram dueto de piano e violino, em célebres concertos no Teatro São Domingos ou em saraus em casas de família. Muitas vezes tocava com eles o Felipe de Paula Bauer (1855 – 1930), flautista, com quem a Maria Augusta veio a se casar.

Talento e formação musical possibilitaram que Nhanhã se tornasse também organista. Participou do coro mantido pelo pai, quando o acompanhava ao órgão de tubos da igreja matriz. Na década de 1920, Nhanhã Bauer criou o próprio grupo, coro infantil junto à Pequena Liga de Nossa Senhora do Carmo, na igreja desse orago. Lecionava piano em aulas particulares em casa, à Rua do Comércio, 131, altura do atual Banco do Brasil (lado ímpar). No mesmo imóvel estava o gabinete dentário do marido.

Nesse contexto de intensa vida artística, a menina Ruth de Arruda (1913 – 2014) conheceu a Nhanhã, cantou com ela na igreja e recebeu aulas de piano. O encontro abriu caminhos à longa atuação da futura regente de coro cuja memória extraordinária tanto colaborou para juntar as peças desse passado.

Do casamento entre Felipe e Maria Augusta nasceram oito filhos, destaque para duas Irmãs de São José e a Tristão Bauer (1904 – 1985), antigo professor de Latim e Grego e prefeito de Itu na década de 1940. Herdeiro do talento dos pais, era dono de belíssimo timbre de barítono; nas celebrações da liturgia católica, quando imperava o Canto Gregoriano em diálogo com a música de Perosi e Camatari, ele era o responsável pelo cantochão.

Maria Augusta da Costa Bauer passou os últimos anos de vida em Campinas, submetida a longo tratamento médico, onde faleceu a 31 de maio de 1933, passamento lamentado através da imprensa local: louvaram a sua bela voz e dedicada atividade musical.

Há exatos 150 anos, Elias Álvares Lobo dedicou a sua sétima missa ao cunhado Tristão Mariano, desejando que a “tenra e mimosa filhinha que já tens” (…) “herde a doce voz de sua mãe, para com esta interpretar (…) e, por seu mavioso canto, disfarçar a pobreza de minha inspiração musical”. O prognóstico do velho maestro deu certo!