Leituras iniciais da Solenidade da Assunção de Nossa Senhora
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Coluna organizada por Nilo Pereira, segundo a exegese do Pe. Fernando Armellini, scj

1ª Leitura (Apocalipse 11,19a;12,1-6a.10ab)
Uma certa devoção mariana, junto com inegáveis méritos, limitou-se a apresentar-nos uma Nossa Senhora muito distante de nós e do nosso mundo. Maria não é um ser sobre humano, mas sim uma irmã que vive as alegrias e dores, as angústias e esperanças de todos os irmãos da comunidade. É esta irmã que hoje a liturgia nos convida a contemplar.
A cena descrita é grandiosa. Quem são os três os personagens: a mulher, o dragão e o recém-nascido? O “menino” é evidentemente Cristo “que é destinado a governar as nações”. O dragão vermelho simboliza o mal, as forças contrárias à salvação, o inimigo de Deus e do seu plano de amor. Essas forças destrutivas se atiram contra o “Messias” desde o dia do seu nascimento que – preste atenção – não é o acontecido em Belém, mas aquele do dia da Páscoa, em que Jesus de Nazaré, saindo do sepulcro, revelou-se como Cristo, como Messias.
A mulher parece ser Maria. É esta a interpretação mais simples e imediata e, realmente, muitas imagens reproduzem Nossa Senhora radiante como o sol, com a lua sob os pés e com uma coroa com doze estrelas sobre a cabeça. Mas não é isso. A “mulher” representa, antes de tudo, a comunidade de Israel e é a esse povo (composto por doze tribos) que se referem as doze estrelas.
Se “a mulher” não é Maria, como a liturgia nos propõe este trecho do Apocalipse na festa da Assunção? A razão está no fato de que todos os textos – tanto do Antigo como do Novo Testamento – que falam do povo fiel a Deus, podem ser aplicados a Maria.

2ª Leitura (1Coríntios 15,20-27a)
No Novo Testamento fala-se constantemente da morte e do morrer e não poderia ser de outra maneira, visto que a vitória de Cristo sobre a morte constitui a verdade fundamental da mensagem cristã.
Nós somos pessoas de fé e, no entanto, nos perguntamos: se Cristo venceu a morte, por que continuamos e morrer? A morte não nos alcança somente no termo de nossos dias sobre a terra, é uma experiência que nos acompanha em todo momento. A doença, dor, desilusão, solidão, o abandono, a insuficiência física são situações que impedem de viver em plenitude, são formas de morte.
A mulher traída, a mãe que possui um filho dependente de drogas, a garota seduzida e abandonada não pode estar dizendo: “Tenho a morte no coração”? Amar a Deus significa aceitar com serenidade essa realidade humana.
Cristo não eliminou a morte biológica: o organismo do homem, como o de cada ser vivo, acaba por consumar-se. Cristo venceu a morte, não porque encontrou uma forma miraculosa de não nos deixar sair deste mundo e, quando estamos para morrer nos faz retroceder. Isto não seria uma vitória sobre a morte, mas uma forma de manter-nos no mundo aonde se é constrangido a conviver com os germes da morte.