Espiritualidade e Literatura 1
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A obra “O Senhor dos Anéis”, escrita por J.R.R. Tolkien, apresenta um vasto universo ficcional repleto de personagens complexos e uma trama épica. Dentre os protagonistas, destaca-se Frodo Bolseiro, um hobbit que é encarregado de uma missão perigosa e crucial: destruir o Anel em Mordor. Essa tarefa não apenas exige coragem e determinação, mas também requer que ele assuma a responsabilidade de carregar o Anel com integridade e, porque não, santidade. Frodo entende que sua missão não é apenas uma obrigação física, mas também uma jornada espiritual, onde sua conduta moral é posta à prova.

Ao longo da narrativa, Frodo enfrenta diversas tentações e adversidades que poderiam levá-lo a utilizar o Anel para seus próprios fins. No entanto, ele demonstra uma consciência moral elevada ao resistir a essas tentações e manter-se fiel à sua missão. Frodo compreende que a responsabilidade de carregar o Anel requer que ele permaneça puro de coração e evite a corrupção que o poder do Anel poderia trazer. Essa atitude demonstra a importância de carregar nossos deveres com humildade, agindo de acordo com princípios morais elevados mesmo quando somos confrontados com desafios e dificuldades.

Além disso, Frodo é constantemente acompanhado por um grupo de companheiros leais, que o auxiliam em sua jornada. Essa dinâmica reflete a importância da responsabilidade compartilhada e do apoio mútuo na realização de nossos deveres. Frodo reconhece que não está sozinho em sua missão e confia em seus amigos para ajudá-lo a enfrentar os obstáculos que surgem em seu caminho. Essa colaboração ressalta a importância de buscarmos apoio e orientação em nossa própria jornada, compartilhando nossos fardos e responsabilidades com aqueles que nos cercam.

No clímax da história, Frodo chega a Mordor, onde deve destruir o Anel no fogo. No entanto, ele é atormentado pelo desejo de possuí-lo e sucumbir à sua influência corruptora. Nesse momento crítico, Frodo enfrenta um dilema moral que coloca sua coragem à prova. Ele finalmente toma a decisão de se livrar do Anel, mesmo que isso signifique o sacrifício de sua própria vida. Essa renúncia ao poder e ao egoísmo representa uma das virtudes cristãs mais nobres: “Não há maior amor do que dar a própria vida pelos amigos” (Jo 15,13).

É importante ressaltar que a responsabilidade de carregar nossos deveres com santidade não se limita apenas às grandes missões épicas, como a de Frodo em destruir o Anel. Ela se estende às nossas responsabilidades cotidianas, seja no âmbito familiar, profissional, social ou religioso. Frodo fala para seu amigo e mentor Gandalf: “Eu gostaria que isso não tivesse acontecido no meu tempo”. E Gandalf responde: “Eu também, e todos os que vivem para ver esses tempos. Mas isso não lhes cabe decidir. Tudo o que temos a decidir é o que fazer com o tempo que nos é concedido”. Tudo isso vem de encontro ao ensinamento da Igreja: “Todos os fiéis se santificarão cada dia mais nas condições, tarefas e circunstâncias da própria vida e através de todas elas, se receberem tudo com fé da mão do Pai celeste e cooperarem com a divina vontade, manifestando a todos, na própria atividade temporal, a caridade com que Deus amou o mundo” (Lumen Gentium, 41).

A responsabilidade de carregar nossos deveres com santidade também implica em reconhecer que nossas ações têm consequências, tanto para nós mesmos quanto para aqueles ao nosso redor. Frodo compreende que suas escolhas e atitudes podem afetar o destino de toda a Terra-média, e isso o leva a agir com responsabilidade e cuidado em suas decisões. Da mesma forma, nós também devemos estar cientes do impacto que nossas ações têm sobre as pessoas e o mundo ao nosso redor, assumindo a responsabilidade de agir de maneira ética e justa.

A jornada de Frodo nos mostra que carregar nossos deveres com santidade não é uma tarefa fácil. Ela exige coragem, sacrifício, renúncia e perseverança. Frodo enfrenta inúmeros desafios ao longo de sua jornada, sofrendo fisicamente e emocionalmente, mas nunca perde de vista o propósito maior de sua missão. Ele permanece comprometido em realizar seu dever com integridade, mesmo diante das adversidades mais difíceis. Portanto, cabe a cada um de nós abraçar essa responsabilidade e trilhar nossa jornada com retidão, perseverança e um compromisso firme com a santidade.