Os Legionários ou Pequenos Cruzados do Coração de Jesus
Um dos mais antigos livros conservados na Biblioteca Histórica Padre Luiz D’Elboux, na igreja do Bom Jesus, traz que a 7 de janeiro de 1898, primeira sexta-feira, foi fundado o grupo dos Legionários ou Pequenos Cruzados do Sagrado Coração de Jesus, Liga da Comunhão mensal Reparadora dos Meninos, sob o patrocínio de S. Sebastião Mártir. Portanto, há 125 anos! Este foi, talvez, o primeiro núcleo juvenil de devoção ao Coração de Jesus no Brasil. No início eram poucos garotos. Mais tarde, com a colaboração da zeladora Leonor de Abreu Macedo juntaram-se as meninas, em grande número, fortalecendo o grupinho que frequentava a igreja do Bom Jesus.
Em abril de 1899, ainda sob a coordenação do cônego Zacharias Luz, o núcleo foi rebatizado de Liga dos Legionários ou Pequenos Cruzados do Sagrado Coração de Jesus, começando a funcionar no dia da festa do patrocínio de S. José (23 de Abril), quando receberam as insígnias oficiais.
O programa era rígido em tempos de militarização da sociedade; desejava a participação de crianças comprometidas com o projeto, dentro de certa hierarquia: um diretor padre e uma legião de oficiais nomeados por patentes, como em um pequeno exército: ajudante de campo, centuriões, decuriões e legionários. Há uma metáfora de luta pela fé, convidando os adolescentes a tomarem posição diante de tantos movimentos anticlericais na sociedade e, em especial, em Itu.
Os participantes já tinham feito a primeira comunhão e poderiam frequentar até completar dezessete anos. O uniforme era calça branca e paletó preto para os meninos. Já as meninas deveriam se apresentar de vestido branco. Todos traziam fita vermelha sobre os ombros com as insígnias do Sagrado Coração de Jesus e um estandarte com o dístico Adveniat Regnum Tuum (venha a nós o Vosso Reino).
Além da reunião mensal, missa e comunhão reparadora, assistiam ao catecismo de perseverança. O regulamento de vida se aproxima muito do que foi proposto à Cruzada Eucarística, ou seja, recomendava aos jovens a modéstia de vida, oração (oferecimento do dia, terço e o Angelus), caridade e pureza tendo como missão os bons exemplos de testemunho cristão.
O grupo dos Legionários existiu por mais duas décadas, mesmo que com o nome simples de Comunhão Reparadora. Surtiu frutos extraordinários, inclusive de vocações sacerdotais, como o Mons. José Maria Drost Monteiro (1893 – 1952), futuro Vigário Geral da Arquidiocese de São Paulo na década de 1940, protótipo de sacerdote e pároco. Ele foi coroinha do padre Taddei, ajudou a primeira missa no Santuário do Apostolado da Oração e contava envergonhado que caiu com o missal nessa importante celebração…
Outra vocação dos Legionários foi o Monsenhor Paulo Florêncio da Silveira Camargo (1896 – 1972). Como biógrafo do padre Taddei, o Mons. Paulo contava que a sua vocação nasceu do aconselhamento desse padre santo de Itu.
No próximo número veremos como o grupo dos Legionários se transformou na primeira Cruzada Eucarística do Brasil.
Luís Roberto de Francisco
Biblioteca Histórica “Padre Luiz D’Elboux”