O menino Ranulpho
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Quando era criança, os meses de maio eram de intensa vida na Igreja, reza todas as noites celebrando o Mês de Maria. No Bom Jesus, levávamos flores aos pés da imagem de Nossa Senhora Candelária. Havia reza do terço e pregação. Lembro-me da voz grave do padre Roberto Godding. Tudo se encerrava com a bênção do Santíssimo. Quando cresci, troquei de lugar: ao invés do banco da igreja, passei para a sacristia, para ajudar a cerimônia. Havia uma infinidade de meninos e meninas, dezenas nas noites de reza, centenas no final do mês, quando havia coroação de Maria.

Uma das coisas que me espantam, hoje, é a falta de crianças nas igrejas do centro de Itu. Entendo que a cultura globalizada mudou a formação das pessoas, que muitas famílias não vivem mais na região central, mas mesmo assim fico pensando que falta faz a alegria e correria dos pequenos trazendo vida nova ao templo velho.

O menino Ranulpho, como eu, também frequentou o Bom Jesus bem cedo, com sete anos participou do catecismo e fez a primeira comunhão. Depois continuou na Cruzada Eucarística, braço juvenil do Apostolado da Oração que estimulava a comunhão frequente e oferecia uma quantidade enorme de atividades culturais e esportivas aos jovens.

A Cruzada Eucarística do Bom Jesus foi a primeira do Brasil e contava com grupo de teatro, time de futebol, sala de jogos, coro, sessões de cinema mas, sobretudo, padres que encantavam os menores com tantas novidades, histórias e santinhos que povoaram a infância da gente.

Certo dia, Ranulpho foi se confessar com o padre Waldomiro Alvarenga, um jesuíta mineiro, campeão das pregações, insuperável na oratória. Servia como guia espiritual para muitos jovens que buscavam um direcionamento para a espiritualidade que aflorava. O padre perguntou ao menino se queria ser padre e o menino disse que sim. Desta forma, nesse contexto nasceu uma das mais belas vocações que eu conheci, a do nosso padre Amirat, um dos jesuíta que mais tempo viveu no Bom Jesus (24 anos) creio que só superado pelo Irmão Conci (30 anos) e pelo padre Taddei (48 anos).

Neste mês completam-se cem anos do nascimento do padre Ranulpho Moraes Amirat, que veio ao mundo em Itu a 27 de maio de 1923 e faleceu em Belo Horizonte em 12 de junho de 1910. Deixou Itu aos 12 anos para ser aluno brilhante na Companhia de Jesus, especializado em matemática e física. Pouca gente que conviveu com ele conheceu a sua especialidade nas ciências, porque o via celebrando missa, atendendo na igreja, proseando com todo mundo, gargalhada ótima na porta da igreja. Ele se especializou em física nuclear na Stanford University, na Califórnia (EUA) e participou da instalação de um dos primeiros computadores no Brasil, na PUC-RJ.

A Biblioteca História do Bom Jesus, em parceria com diversas instituições vai lembrar a memória do padre-cientista que nos encantou com o seu presépio mecânico. Convido os leitores a ficarem de olho no “Circuito Ranulpho Amirat”.