Bispos de diferentes gerações e um ponto em comum: a visão de que as Assembleias da CNBB promovem a comunhão na Igreja
“O que marca mais é a expressão de colegialidade, a gente trabalha em conjunto. E de diocesaneidade, nós somos uma Igreja ligada ao Papa, ligada à Igreja Universal. Nós não estamos construindo uma mensagem própria, nós estamos construindo uma mensagem de salvação que vem desde Jesus Cristo”.
Assim resume as assembleias gerais da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), o bispo emérito de Coari (AM), dom Gutemberg Freire Régis. Das 60 assembleias, ele participou de quase 50.
A primeira foi em 1974, antes ainda de ser ordenado bispo, como prelado da então Prelazia de Coari (AM). Dom Gutemberg conta que naquele ano foi a primeira vez que a assembleia foi realizada no Mosteiro de Itaici (SP). Com o tempo, o local foi crescendo, mas “a CNBB cresceu mais ainda” e a assembleia precisou ser transferida para um lugar maior, o Santuário Nacional de Aparecida.
Religioso redentorista, dom Gutemberg se sente em casa no santuário, que é administrado pela Congregação dos Missionários Redentoristas. “Aí fiz os votos, recebi batina aqui na Basílica Velha”, relembra. “Então essa é uma das grandes razões para que mesmo aposentado eu venha. Porque a gente não vota, não participa tanto diretamente, mas eu participo também porque eu tenho outras vantagens. Me hospedo no convento, nem volto para o hotel”, conta.
Primeira vez na Assembleia do Episcopado
Na outra ponta, o bispo auxiliar de Belém (PA), dom Paolo Andreolli, foi ordenado no último dia 15 de abril. Italiano, há 15 anos mora no Brasil, com trabalho no Estado do Pará. Dom Paolo participa da assembleia pela primeira vez e, assim como dom Gutemberg, vê no encontro dos bispos um sinal de unidade e sinodalidade. “É interessantíssimo, tem uma variedade muito grande entre norte, centro, sul, leste, mas a gente experimenta contemporaneamente essa riqueza, a unidade, estamos procurando coisas comuns, caminhar juntos”, destaca o bispo.
Como padre, dom Paolo precisava se preocupar com os problemas próximos, da paróquia. Como bispo, o horizonte é elevado. “A gente percebe que os problemas continuam, mas estão dentro de um contexto muito maior e para resolver precisamos trabalhar juntos para encontrar soluções”, ressalta. Apesar das diferentes realidades, “a gente percebe que a humanidade é a mesma, as necessidades existenciais do encontro com Cristo, os problemas sociais são mais ou menos os mesmos espalhados em vários lugares”, conta dom Paolo.
Grande família
Com a diversidade de realidades, o bispo auxiliar de Belém se diz encantado com o respeito e a busca por caminhos para se trabalhar junto, em comunhão com o Papa Francisco e a Igreja. “A gente se percebe como uma grande família. O sonho do Conforti, meu fundador, é fazer do mundo uma só família e a gente percebe, sente esse clima de família, com tantos filhos que trabalham juntos, tantos irmãos que trabalham juntos para o bem comum”, destaca.
Para quem está chegando e para quem vem de uma caminhada de quase cinco décadas, a caminhada é sempre de aprendizagem. O próprio caminhar em unidade em meio a realidades diferentes é um processo de aprendizagem, destaca dom Gutemberg. “Porque o ser humano é pessoa que nasce e vai aprendendo: a andar, a comer, a falar. Esse processo de aprendizagem é natural. É isso a conferência, a CNBB, é o que a gente está tentando fazer juntos. Não como indivíduo, cada um querendo resolver por si, nenhuma paróquia sozinha, nenhuma diocese sozinha, mas em comunhão”, relata.
Dom Paolo complementa: “a gente experimenta que está dentro de uma caminhada muito grande e está entrando num trem em movimento. Então a gente pula dentro aprendendo coisas novas e tentando entender para dar a contribuição também dentro do processo”. Nessa caminhada, a ajuda de outras pessoas é fundamental. “Através das pessoas conhecidas a gente vai conhecer mais pessoas ainda e, assim, como aquele círculo que você joga uma pedra dentro de uma lagoa, ele vai se ampliando, a gente vai conhecendo um mundo bem maior, mais amplo”, conta dom Paolo.
E nesse ponto, a caminhada com os bispos mais velhos se encontra novamente. Todo mundo procura ajudar tanto um quanto outro, aponta dom Gutemberg. “Quando a gente chega como bispo novo, os outros estão muito afáveis e procuram ajudar, orientar quando precisa. E como bispo idoso, muitos procuram ajudar porque a gente já está esquecendo as coisas, já não consegue acompanhar o ritmo que às vezes é muito agitado. Eu já estou experimentando o outro lado, a ajuda do início e agora, então isso é bom”, finaliza dom Gutemberg.
Missa com os bispos de recente nomeação
No final do segundo dia de assembleia, na quinta-feira, 20 de abril, dom Paolo concelebrou a missa que foi dedicada especialmente aos bispos de recente nomeação, uma experiência emocionante para ele. “Primeira vez que celebro como bispo naquele presbitério [do santuário] vendo que tem jovens bispos que foram eleitos [como eu]. É como uma família, quando nasce alguém é objeto de interesse, de cuidado, faz com que a gente se doe completamente”, destaca. Na sexta-feira, 21 de abril, a missa foi dedicada aos bispos eméritos.