Confissão não é terapia
Embora realmente esteja enquadrada na categoria de Sacramento de Cura, é uma barbaridade reduzir a Confissão (também chamada de sacramento da Penitência ou da Reconciliação) a um mero exercício terapêutico entre um conselheiro e seu paciente. De fato uma boa conversa ou desabafo, com alguém que nos faça enxergar as coisas por outra perspectiva e assim nos ajude a encontrar soluções para nossos dramas, é algo sempre salutar. Mas o que acontece no confessionário é algo muito maior que isso.
Não é segredo para ninguém que muitos pecadores foram atrás de Jesus pedindo perdão e misericórdia. Sabiam do tamanho de suas misérias e o quanto haviam ofendido a Deus. Temiam a condenação eterna e queriam mesmo mudar de vida. Diante de Cristo, estes arrependidos sempre receberam o que pediram. Foram perdoados, curados física e emocionalmente, mas sobretudo curados da ferida do pecado em suas almas. O que lava as almas das sujeiras do Mal é o sangue do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
Como em tudo na Igreja, as coisas precisam ser observadas e entendidas sob o prisma da Fé. Encarar o ato de confessar-se, sem envolvê-lo na mística que lhe é devida, resulta em ato vazio que não dá frutos na vida do penitente e que causa desgosto no ministério do confessor. Visitar o confessionário anda fora de moda, nesta realidade moderna em que quase mais nada é considerado pecado. Triste é perceber que, mesmo os que se confessam, não o fazem com o devido entendimento a respeito do sacramento.
Muitos pecam por orgulho, quando dizem que não podem se confessar a um outro ser humano tão pecador quanto a si mesmos. Queriam o quê? Que um anjo do céu viesse executar a tarefa? Desculpa esfarrapada, claro. A confissão deve ser entendida junto com o sacramento da Ordem: no confessionário está não o padre humano, mas o Cristo Sacerdote. O Espírito Santo concede aos consagrados da Igreja o dom de ligar e desligar as chaves do pecado na vida das pessoas. O Deus Conosco está perto, nos ouve e perdoa.
São várias as pessoas que se aproximam do confessionário sem a preparação remota que é, no mínimo, gastar uns minutinhos fazendo um exame de consciência. Quando o fazem, não sabem distinguir o que é pecado ou não por pura falta de catequese. Uns não enxergam pecado em nada, outros em tudo. Alguns aparecem para confessar não pecados, mas sentimentos: estresse, raiva, mágoa, nervosismo, etc. Outros fazem do ouvido do padre um lugar para falar mal de colegas, parentes, políticos, etc.
É lógico que muitos católicos sabem se confessar e o fazem com o devido preparo e consciência. Confiam no Cristo presente no sacerdote. Não têm vergonha de assumir os próprios erros diante do padre. Aceitam os conselhos e as penitências impostas. Mas o que preocupa é o grande número dos que não levam o Sacramento da Reconciliação à sério. Com tanto pecado no mundo (quero ver alguém negar!), como se pode passar meses e meses sem pecar gravemente? Como se confessar apenas uma ou duas vezes no ano?
Igreja, tem. Padre, tem. Sacramento, tem. Em todo o mundo são milhares os sacerdotes que dedicam, diariamente, parte do dia a perdoar os pecados do povo. Realmente é uma idiotice desprezar um privilégio tão grande quanto o de ser perdoado por Deus. O problema do mundo moderno é que a maioria das pessoas passa mais tempo fora do que dentro da Graça divina. Daí o aumento de confusões, dramas e outras questões que perturbam o coração do ser humano. Confissão não é terapia: é via de santificação.