As três horas de agonia de Jesus em Itu
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Como vimos na última matéria, em 1868, o padre Taddei realizou pela primeira vez, na igreja do Bom Jesus, a bela cerimônia das Três Horas de Agonia, meditando as sete últimas palavras de Jesus na Cruz. A tradição se fortaleceu de tal maneira que, em 1905, a Tipografia do Apostolado, instalada nos fundos daquela igreja, imprimiu um livreto, instruindo as comunidades à sua realização. O texto, forte e comovente, escrito pelo padre Marcello Rocchi, companheiro de Taddei na Companhia de Jesus e na igreja do Bom Jesus, foi feito para ser lido e interpretado em público, ganhando condução romântica e ritmo de versificação. Aliás, as metáforas lembram certos textos poéticos muito evidenciados pela entonação teatral de seu leitor.

O formato da cerimônia ituana, desenvolvida pelo padre Taddei em Itu, prevê uma leitura, um sermão e uma meditação musical a cada uma das sete palavras.

Ao introduzir a dolorosa narrativa, assim o autor, padre Rocchi, interpela a assistência sobre a crucificação de Jesus: “E haverá entre nós corações tão duros e insensíveis que recusem aproximar-se de um Pai tão extremoso, que olvidando todos seus padecimentos quer lançar-lhe a última bênção? Haverá entre nós quem possa assistir à penosa agonia de um Pai tão bondoso e cheio de misericórdia sem derramar uma lágrima de compaixão? Poderá o filho da Redenção abandonar nos últimos momentos de vida a seu Pai celestial que para resgatá-lo da satânica escravidão morre no patíbulo da cruz? À vista de espetáculo tão lastimoso quem não sentirá despedaçar-se-lhe o coração?”

Entre citações latinas da Sagrada Escritura e trechos de santos da Igreja, o padre Marcello Rocchi escreveu uma oração à Paixão e morte de Jesus com forte caráter emocional. Vejamos os recursos de retórica, comoção e apelo ao sentimentalismo próprio do Romantismo na Última Palavra. “Amados cristãos faltam-me as expressões, falta-me o alento, e a língua treme ao anunciar-vos o último desenlace. Jesus já encomenda a sua alma puríssima, agitada com o espasmo da morte, nas mãos de seu Eterno Pai. Ó lágrimas, onde estais? Olhos meus, por que não chorais à vista de um espetáculo tão lastimoso? Não haverá entre nós corações sensíveis para derreter-se em lágrimas de dor na morte do nosso amado Redentor?”

Três anos depois na mesma igreja, para a mesma comunidade, o padre Taddei trouxe um movimento novo, nascido na França, chamado Apostolado da Oração, a liga mundial de orações pela Humanidade, pedindo saúde e paz a Jesus, através de seu Divino Coração.

Muitas comunidades brasileiras mantêm vivo o Sermão das Sete Palavras na sexta-feira santa porque ele é instrutivo, reflexivo, equivalendo a um retiro espiritual. O Apostolado da Oração deve incentivá-lo, porque é próprio da sua devoção.

Os fiéis da igreja do Bom Jesus sempre prezaram imensamente essa bela devoção iniciada pelo padre Bartolomeu Taddei. Ela representa um importante lastro de pertencimento à cultura católica em Itu.