O guardião da nossa memória
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Neste mês o Museu Republicano Convenção de Itu completa seu primeiro centenário de inauguração. A 18 de abril de 1923 o presidente do Estado de São Paulo, Washington Luís Pereira de Souza esteve em Itu com outras lideranças políticas para abrir as portas ao público do primeiro museu de história do interior paulista. É certo que a instituição concebida por ele e pelo Dr. Affonso Taunay, seu primeiro diretor, veio como um memorial do movimento das elites paulistas, que fortaleceu a ação política dos republicanos com a fundação do PRP.

Quem conheceu o Museu Republicano antes de seu fechamento para reforma, realizada entre 1978 e 1986, viu claramente um memorial aos “grandes homens do passado” instalado em bela residência da elite, exibindo rico mobiliário, retratos dos fundadores do partido, tidos como fundadores da própria república e, talvez, da nação, na concepção de História daquele tempo. O gabinete de trabalho do presidente Prudente de Morais era um capítulo à parte, cuja mobília, livros e pequenos objetos foram organizados de forma a reproduzir exatamente a mesma ordem dada pelo político quando morava em Piracicaba.

Passadas algumas décadas, o museu, mantido pela Universidade de São Paulo, renovou as suas exposições, abriu-se mais à comunidade e passou a encarar o acervo como meio para compreendermos as relações sociais e de poder no século XIX e primeiras décadas do século XX. Desde então, as exposições têm nos levado a pensar o objeto não mais como uma relíquia do passado, que pertenceu a alguém “importante”; os textos em legendas e painéis provocam nova curiosidade sobre materiais, funções, usos e costumes de outro tempo, afinal nossa cultura material se transformou demais.

Diversos cursos e outros meios de formação têm sido realizados desde a década de 1980 para ampliar a ideia de que o acervo museológico está ali para nos fazer compreender o seu papel muito além do culto às personalidades do passado.

Outra parte importante do acervo, que está sob a guarda do Museu Republicano, é a documentação pública, seja da Câmara Municipal, da Prefeitura ou do Poder Judiciário, este, em boa hora, salvo da incineração por mediação do saudoso advogado Ermelindo Maffei. Quem se debruçou a estudar a história da nossa região e escreveu seus trabalhos nos últimos trinta anos, não se furtou a pesquisar o acervo extraordinário de inventários, testamentos e processos crime que permitiram uma visão de história social e política. A guarda e disponibilização dessa documentação é notável. A instalação do acervo no Centro de Estudos, anexo ao museu, deu dignidade ao edifício, outrora prefeitura e permitiu acesso muito maior à pesquisa, inclusive na riquíssima biblioteca do prof. Edgar Carone, adquirida de seus descendentes para o museu de Itu.

O Museu Republicano Convenção de Itu tem servido de inspiração à criação de outras unidades museológicas como o Museu da Energia, o Memorial da Santa Casa de Misericórdia e o Museu da Música, para falar somente de Itu.

Vida longa ao guardião da nossa memória!