A memória e a  cultura de Itu
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Uma das questões que se deve lamentar bastante é a falta de memória de um povo. As gerações que desconhecem o próprio passado, os referenciais que as constituem como nação ou comunidade, são frágeis, facilmente conduzidas, alienadas, submetidas ao sabor de qualquer novidade. É o caso do nosso tempo: nas últimas décadas, com a Globalização, perdemos mais ainda a capacidade de saber olhar o processo passado-presente e encontrar o fio da meada.
Faz quase quarenta anos que pesquiso a vida e a obra de Tristão Mariano da Costa (1846 – 1908). Foi um professor que nasceu e viveu em Itu (um pequeno tempo também em Piracicaba), escritor neste jornal, a maioria dos temas um tanto distantes dos meus interesses. Mas compositor que me marcou, cuja obra tenho prazer em executar. Por uma série de motivos acabamos nos ligando, afinal ele é o meu patrono na Academia Ituana de Letras, a Cadeira 30. Quando tomei posse já disse e escrevi isso: não concordo com muitas ideias dele, afinal vivemos em tempos diferentes, mas é preciso que o conheçamos (ele e outros) para compreender o tempo em que viveu como parte do que temos hoje, as migalhas de herança cultural que chegam até nós e fazem parte deste tempo porque, sem elas, não nos compreendemos bem.
Nesta semana a Academia Ituana de Letras e o Instituto Cultural de Itu abrem um ano dedicado a Tristão Mariano. Isso já aconteceu há três décadas, quando completavam-se 150 anos de seu nascimento. Agora são 180, em junho de 2026. Será o momento de divulgá-lo mais, os seus escritos, a sua música, as ações como vereador, os temas pelos quais lutou, a sua família de músicos, a sua trajetória como professor.
Nesta semana abre-se a exposição com seus objetos, pistas que sobraram, para a gente saber da extensão da sua influência como cidadão. Depois virá uma publicação com seus artigos em jornais e um catálogo das composições musicais. De fato, a música vai permear todo esse tempo, afinal a Schola Cantorum de Itu pretende executar obras de sua composição mensalmente nas igrejas da cidade.
Através da compreensão da vida e das atividades de um homem é possível atingir outros elementos do seu tempo. Por exemplo: ao entender como ele pensava, chegamos a outras formas de pensar de outros personagens. Ao saber como compunha música e para quê, entendemos como eram realizados eventos e atividades artísticas em seu tempo.
O Museu da Música – Itu é o maior guardião de referenciais sobre Tristão Mariano. As discussões e eventos que propõe, em parceria com a ACADIL e com a Biblioteca Histórica Padre Luiz D’Elboux, são meios de se atingir um tempo interessantíssimo da história local, em que um homem extremamente religioso, ligadíssimo a intelectuais antiliberais, era representante político dos liberais através do Partido Republicano, onde Tristão causava confusão pois parecia viver em contradição. A História é assim.
Espero poder colaborar ao trazer o Tristão Mariano do meu gosto mais perto de nosso tempo.