Dom José Valdeci denuncia a violência no campo sofrida pelas comunidades tradicionais maranhenses
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O Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) aprovou, nesta quarta-feira, 22 de março, o envio de uma ajuda humanitária no valor de 100 mil reais para a comunidade tradicional Baixão dos Rochas, no município de São Benedito do Rio Preto, no Maranhão, atacada por homens armados que incendiaram casas e expulsaram moradores.

Dom José Valdeci dos Santos Mendes, bispo de Brejo (MA) e presidente da Comissão Episcopal Pastoral para Ação Sociotransformadora da CNBB, falou sobre a realidade da comunidade, situada a 240 quilômetros da capital maranhense São Luís, atacada na madrugada de domingo, 19.

Veja o vídeo:

As famílias continuam enfrentando ameaças.  Na madrugada da terça-feira, 21, os moradores ouviram tiros e, em seguida, os tratores da empresa usados para derrubar as casas, que ficaram atolados no córrego no dia dos ataques, foram incendiados. Segundo uma pessoa da comunidade, a queima dos equipamentos foi realizada por jagunços da empresa, “ouvimos um tiro, cachorros latindo e perseguindo alguém na mata próxima ao Barracão onde estamos acampados, distante dos tratadores e com segurança policial”.  

“As situações das famílias, sobretudo dos idosos, é delicada neste momento. Ontem passaram à noite enfrentando chuva, não conseguiram dormir e ainda não tem o apoio de segurança de forma integral, mas estão resistindo”, comenta o padre Francisco das Chagas Pereira, coordenador de pastoral da diocese de Brejo (MA). 

O Programa de Assessoria Rural da diocese de Brejo, a Secretaria e o Conselho Estadual de Direitos Humanos do Maranhão estão acompanhando de perto a comunidade. Uma equipe da Federação dos Trabalhadores Rurais (Fetaema) se deslocou para o município São Benedito do Rio Preto e solicitou reforço policial.

Visita ao ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania

Na manhã de hoje, 21, dom José Valdeci esteve com o ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Luiz de Almeida para pautar as violações dos direitos humanos que as comunidades tradicionais maranhenses. 

“Na medida que avança o agronegócio principalmente no estado Maranhão oprime as comunidades tradicionais que também sofrem a ausência do estado, a concessão de licenças ambientais indevidas a morosidade dos processos e conivência do estado contribui para estes ataques aos povos de comunidades tradicionais”, afirma dom Valdeci.  

As 57 famílias de agricultores vivem na comunidade, enfrentam o conflito há seis anos, o que se agravou nos últimos três anos com a chegada de duas empresas de agronegócios que reivindicam as áreas da comunidade rural para plantar na região. Segundo o Instituto de Colonização e Terras do Maranhão (Iterma), a propriedade das terras reivindicadas pelas duas empresas é irregular. 

Ainda nesta manhã, dom Valdeci, também esteve reunido com um grupo de parlamentares, que se articulam com a Comissão Brasileira Justiça e Paz, chamado Fratelli Tutti, que se encontra mensalmente a partir da inspiração da Encíclica do Papa Francisco.

O tema hoje era “Os 10 anos de Pontificado de papa Francisco”, todavia a urgência das violências sofridas pela comunidade de Baixão da Rochas, relatadas pelo bispo, mobilizou o grupo para realizar as devidas articulações com o Ministério dos Direitos Humanos, Secretaria Geral da Presidência da República e uma solicitação à Comissão de Direitos Humanos e Minorias, da Câmara dos Deputados, de uma diligência ao território para conhecimento da gravidade dos fatos e tomada de providências.