Falar cordialmente
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“Falar com o coração – Testemunhando a verdade no amor” é o tema da mensagem do Papa Francisco para o 57° Dia Mundial das Comunicações Sociais (DMCS), celebrado anualmente no Domingo da Ascensão do Senhor, este ano em 21 de maio.

Entre os muitos aspectos abordados pelo Papa em sua mensagem, já falamos aqui da importância de, em nossas comunicações, deixarmo-nos guiar pelo nosso coração. Significa, nas palavras de Francisco, ouvir nosso coração e olharmos “uns para os outros com compaixão, acolhendo as fragilidades recíprocas com respeito”. Em outras palavras, é preciso haver encontro entre pessoas para que a verdadeira comunicação aconteça.

Em tempos de tanta polarização de ideias e oposição radical entre as pessoas, parece cada vez mais difícil que possamos promover encontros…

Eis o desafio proposto pelo Papa Francisco: “Todos somos chamados a procurar a verdade e a dizê-la, fazendo-o com amor.”

A necessidade de procurarmos a verdade já nos mostra, a priori, que ela não está facilmente à vista. Precisa ser buscada, encontrada onde está escondida, oculta. Assim, é preciso ter “um pé atrás” com as verdades que nos chegam prontas, resolvidas, concluídas. Precisamos ter um espírito crítico para fazer a verdade se revelar. E o espírito crítico necessita de uma disposição maior para perguntas do que para afirmações conclusivas, fechadas, que não admitem serem questionadas.

Mas não podemos nos contentar em encontrar a verdade. É preciso comunica-la aos outros! Mais ainda: precisamos comunicar a verdade com amor!

“Por vezes, o falar amável abre uma brecha até nos corações mais endurecidos”, diz o Papa, que lembra também que o falar cordialmente tem potencial de “um verdadeiro antídoto contra a crueldade, que pode, infelizmente, envenenar os corações e intoxicar as relações”.

Falar cordialmente, nos dias de hoje, não é fácil. Parece que estamos quase sempre à mercê de alguém que irá nos enganar, nos atacar, se aproveitar de nós ao menor sinal de fraqueza que demonstrarmos. Por isso, precisamos estar preparados, armados, prontos para nos defender. E, seguindo um ditado talvez nem tão sábio, às vezes optamos por nos defender atacando primeiro.

Dessa forma, nossas comunicações ficam quase sempre agressivas, repletas de ódio e rancor – nem bem sabemos o porquê. O encontro sincero e aberto entre pessoas parece impossível!

“Comunicar cordialmente quer dizer que a pessoa que nos lê ou escuta é levada a deduzir a nossa participação nas alegrias e receios, nas esperanças e sofrimentos das mulheres e homens do nosso tempo. Quem assim fala, ama o outro, pois preocupa-se com ele e salvaguarda a sua liberdade, sem a violar”, nos lembra Francisco.

Para nos ajudar nessa tarefa, o Papa destaca a atitude de Jesus junto aos discípulos de Emaús. Naquele instante ainda um misterioso viajante, Jesus dialoga com os discípulos a caminho da cidade de Emaús, depois da morte de seu Mestre, pregado na Cruz. “A eles, Jesus ressuscitado fala com o coração, acompanhando com respeito o caminho da sua amargura, propondo-Se e não Se impondo, abrindo-lhes amorosamente a mente à compreensão do sentido mais profundo do sucedido.”

Precisamos desse falar cordial, que toca o coração das pessoas, em todos os aspectos de nossa comunicação, para que ela “não fomente uma aversão que exaspere, gere ódio e conduza ao confronto, mas ajude as pessoas a refletir calmamente, a decifrar com espírito crítico e sempre respeitoso a realidade onde vivem”.