Um peregrino se despede do Papa
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Padre Fernando Meira
Pároco da Paróquia Senhor do Horto e São Lázaro

Como admirador do Papa Bento eu sempre quis assistir ao seu funeral, afinal não pude ver a missa da sua eleição. No dia 28 de dezembro, quando o Papa Francisco pediu orações por ele, para mim foi um anúncio e comecei a preparar a mala, mesmo sendo data tão complicada para um pároco. Com a notícia da sua morte, busquei passagem aérea, mas parecia impossível o meu sonho se realizar.

Comentei na missa a minha dupla tristeza. Ao final da cerimônia, uma paroquiana avisou que conseguira o bilhete para o dia 2 de janeiro. Não acreditei, parecia impossível, tudo tão difícil, mas consegui realizar o sonho, uma “delicadeza de Deus” com a ajuda do Padre Bento a quem sempre recorro. Outro paroquiano conseguiu a moeda europeia para eu comprar e um amigo reservou a “Domus Paulo VI”, casa para padres, onde estou hospedado desde terça-feira (3), em Roma. Vim para ficar até a missa de sétimo dia.

No meio dos preparativos, outra correria foi para conseguir roupas adequadas para enfrentar o inverno rigoroso da Itália. Elas vieram emprestadas.

Ao partir, pedi a bênção ao nosso bispo, Dom Arnaldo. Ele me disse para representar a nossa diocese. Aqui estou!
No aeroporto, em São Paulo, encontrei cerca de vinte padres e os cardeais Dom Odilo, arcebispo de São Paulo, e Dom Damasceno, arcebispo emérito de Aparecida. Viemos no mesmo voo.

Estou escrevendo este texto na quarta-feira, dia 4 de janeiro. Ontem passei o dia na Praça de São Pedro, na expectativa de não perder nenhum detalhe, com sentimento de gratidão ao papa emérito pelo testemunho que tanto ajudou no meu ministério.

Na fila para ingresso na basílica, há um espírito de comoção, gente que admira o teólogo que marcou as suas vidas. Estou vendo muitos padres da minha idade, entre 50 e 60 anos – a geração marcada pelo seu pontificado – justamente com esse sentimento.

Na Basílica de São Pedro encontrei duas famílias brasileiras, uma do Rio de Janeiro e outra do Paraná. Ouvi o depoimento de quem estava fazendo turismo e a coincidência de poder participar do funeral do grande pontífice.

Consegui ficar em um espaço privado, reservado para padres e religiosas. Em toda parte, o assunto era o mesmo: tivemos um papa que foi um grande teólogo e produziu muito, que marcou o século XX.

Há também curiosos que se lembram da atenção especial de Bento XVI por gatos. O seu secretário particular até escreveu um livro, direcionado às crianças, contando a história de Bento XVI pelo seu parceiro o gato Chico. Eu já li esse livro!

A gratidão pelo testemunho deste magno papa, legítimo sucessor de Pedro, é expressa nas preces. Cremos na comunhão dos santos e cremos na vida eterna.

Tenho rezado assim: oremos que o nosso Bento continue, na vida divina, intercedendo pela Igreja, seja patrono dos teólogos e mestres: precisamos de uma teologia que revele um Deus Amigo, transcendente e próximo. Precisamos da humildade, que expresse a verdade do seguimento de Jesus de Nazaré. É um renovado amor que também possamos fazer, expressar em gestos: “Senhor eu te amo”, suas últimas palavras.

Amém.

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