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O Evangelho de Mt 11,2-11 nos fala de João Batista que, enquanto está na prisão, envia os seus discípulos a perguntar a Jesus: «És tu aquele que há de vir, ou devemos esperar por outro?» (Mt 11, 4). Com efeito, ouvindo falar das obras de Jesus, João é tomado pela dúvida sobre se Ele é realmente o Messias ou não. Efetivamente, pensava num Messias severo, que viria e faria justiça com o poder, castigando os pecadores. Agora, ao contrário, Jesus tem palavras e gestos de compaixão para com todos, no centro do seu agir está a misericórdia que perdoa, pelo que «os cegos recuperem a visão, os coxos andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos ressuscitam, o Evangelho é anunciado aos pobres» (v. 5). Mas nos faz bem meditar sobre esta crise de João Batista, pois pode dizer algo importante também a nós.

O texto realça que João está na prisão, e isto, para além do lugar físico, nos faz pensar na situação interior que ele vive: na prisão há escuridão, não há possibilidade de ver claramente e de ver além. Com efeito, o Batista já não pode reconhecer Jesus como o Messias esperado. Assaltado pela dúvida, envia os discípulos para verificar: “Ide ver se é o Messias ou não”. Surpreende nos que isto aconteça precisamente com João, que batizara Jesus no Jordão e que o tinha indicado aos seus discípulos como o Cordeiro de Deus (cf. Jo 1, 29). Mas isto significa que até o maior crente atravessa o túnel da dúvida. E isto não é um mal; pelo contrário, às vezes é essencial para o crescimento espiritual: ajuda-nos a compreender que Deus é sempre maior do que o imaginamos; as obras que realiza são surpreendentes em relação aos nossos cálculos; o seu agir é sempre diferente, supera as nossas necessidades e expetativas; e por isso nunca devemos deixar de procurar-lo e de nos convertermos à sua verdadeira face. Um grande teólogo dizia que Deus «deve ser redescoberto por etapas… às vezes acreditando que o perdemos» (H. DE LUBAC, Sulle vie di Dio, Milão 2008, 25). É o que faz o Batista: na dúvida, volta a procurá-lo, interroga-o, “discute” com Ele e finalmente redescobre-o. João, definido por Jesus como o maior entre os nascidos de mulher (cf. Mt 11, 11), nos ensina, em síntese, a não fechar Deus nos nossos esquemas. Este é sempre o perigo, a tentação: fazer um Deus à nossa medida, um Deus para usar. E Deus é outra coisa.

Irmãos e irmãs, também nós às vezes podemos nos encontrar na sua situação, numa prisão interior, incapazes de reconhecer a novidade do Senhor, que talvez mantenhamos prisioneiro, na presunção de que já sabemos tudo sobre Ele. Caros irmãos e irmãs, nunca sabemos tudo sobre Deus, nunca! Talvez tenhamos em mente um Deus poderoso, que faz o que quiser, e não o Deus da mansidão humilde, o Deus da misericórdia e do amor, que intervém respeitando sempre a nossa liberdade e as nossas escolhas. Talvez também nós gostássemos de lhe dizer: “És realmente Tu, tão humilde, o Deus que vem para nos salvar?”. E pode nos acontecer algo semelhante também em relação aos irmãos: temos as nossas ideias, os nossos preconceitos, e atribuímos aos outros – especialmente a quem sentimos que é diferente de nós – etiquetas rígidas. Então, o Advento é um tempo de inversão de perspectivas, no qual nos deixar mos surpreender pela grandeza da misericórdia de Deus. O enlevo: Deus surpreende sempre. Deus é sempre Aquele que desperta em nós a admiração. Um tempo – o Advento – em que, preparando o presépio para o Menino Jesus, aprendemos de novo quem é o nosso Senhor; um tempo para sair de certos esquemas, de certos preconceitos em relação a Deus e aos irmãos. O Advento é um tempo em que, em vez de pensar nos dons para nós, podemos oferecer palavras e gestos de consolação a quem está ferido, como fez Jesus aos cegos, aos surdos e aos coxos.

Que Nossa Senhora nos pegue pela mão, como mãe, nestes dias de preparação para o Natal e nos ajude a reconhecer na pequenez do Menino a grandeza de Deus que vem!