Crise e renovação da Igreja católica no tabuleiro mundial
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Novos ventos trazidos pelo Papa Francisco e seus bispos

Papa Francisco está encerrando dez anos de grande reviravolta na inserção mundial da Igreja Católica, finalizando seu projeto de reforma e preparando sua sucessão. Num momento de profunda crise civilizatória, coube-lhe enfrentar divisões e escândalos, mantendo a unidade da Igreja. No governo do Vaticano – o menor país do mundo – ele e seus bispos continuam desempenhando o mesmo papel de Pedro e dos doze apóstolos, espalhando a Luz de Cristo para todos os recantos do planeta.

Nesta etapa de transição, é importante relembrar que sua eleição, em 2013, foi um acontecimento inovador: sopro de impetuoso vento de mudanças, no qual o clero brasileiro desempenhou importante papel, atestado pela presença do Cardeal Cláudio Hummes – especialmente convidado para estar ao seu lado na varanda central da Basílica de São Pedro, no momento de sua primeira bênção ‘Urbi et Orbi’ (para a cidade de Roma e para o mundo).

Nosso cardeal foi determinante nas articulações da escolha do papa argentino. Este tinha emergido como líder da Igreja na América Latina, na Conferência Episcopal Latino-Americana realizada na Basílica de Aparecida (Brasil), em 2007. Durante a eleição papal, havia oposição daqueles que não gostavam de seu estilo de vida, seu compromisso com os pobres, sua ideia de uma Igreja que vai às periferias urbanas – e que hoje ele leva às ‘periferias’ mundiais.

Entretanto, muitos cardeais estavam à procura de uma mudança radical e levaram em consideração ser ele profundamente espiritual, não ambicioso, simples e austero, com enorme amor aos pobres – demonstrado em suas visitas regulares às favelas de Buenos Aires. Foi ele assim visto como alguém que poderia realizar uma reforma espiritual no Vaticano e na Igreja. A súbita renúncia de Bento XVI (eleito em 2005) havia trazido à tona terríveis escândalos, e o curto prazo para preparar a eleição do novo papa não deu tempo para as manobras dos opositores ao processo de mudança.

De fato, Papa Francisco – acompanhando o atual processo mundial – está mudando o eixo da Igreja no mundo, deslocando-o da Europa para regiões consideradas ‘periféricas’. Em agosto de 2022, ele escolheu vinte novos cardeais afinados com sua perspectiva da igreja no mundo presente, entre eles seis da Ásia, dois da África, um da América do Norte e dois brasileiros: os arcebispos de Brasília e de Manaus. A escolha de vários novos cardeais é de suma importância para que seu sucessor dê continuidade à sua obra, pois eles escolherão o próximo papa a comandar universalmente a Igreja e colaborarão nas decisões sobre questões de doutrina e fé católicas.

A 59ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil confirmou total apoio ao Papa Francisco. Contudo, a atual eleição presidencial brasileira revelou a dimensão e gravidade da crise institucional na Igreja Católica. Alguns setores dela privilegiam as orientações político-ideológicas de seus candidatos, rebelam-se, ofendem e atacam padres, bispos, CNBB e o Papa. Manifestam sua ira até no espaço sagrado das missas. Dividem comunidades, mas não podem atingir sua construção interior (Corpo de Cristo) nem impedir a renovação trazida pelo Espírito.