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Dom Adelar Baruffi
Arcebispo de Cascavel (PR)

Neste momento, tomo algo que me tocou, no livro de Fulton Sheen, O Sacerdote não se pertence, São Paulo, Molokai, 2020. Trata-se da relação entre Pedro e Simão e, ao mesmo tempo, com Judas. Aqui ele trata de Pedro, o Simão na sua origem, para compreender a ele como o mistério humilde e ao mesmo tempo orgulhoso. Ele é tão sobrenatural, mas tão fraco e natural. É significativo que o primeiro escolhido para ser um sacerdote cristão, tenha sido dado um nome novo: “Pedro” é o seu nome vocacional e Simão o seu nome natural. Às vezes quem governa é Simão, outras vezes é Pedro. O pecador e o sem pecado, o velho e o novo, o humano e o divino, tudo carregamos conosco para o altar. Cada presbítero carrega consigo o Simão Pedro. Pedro foi aos poucos ganhando o domínio sobre Simão. Pedro estava disposto a confessar Cristo, o Filho de Deus, mas não o Cristo, vítima inconfundível. O nosso conciliador é a própria razão humana, com a companhia do Senhor. É Ele quem vai fazer o possível para conjecturar e salvar a pessoa humana, tornando-a cada vez mais uma só.

Muito tênue é a luz que divide entre o bom e o mau. Vamos agora comparar Pedro e Judas. De fato, todo mau presbítero está perto de ser um bom presbítero. E todo o bom presbítero está bem próximo de ser um mau presbítero. Precisa se cultivar para isso, com decisão, sem medo, com renúncia, com a oração cotidiana e a Eucaristia, sobretudo, e a Liturgia das Horas. Aí sim, faremos uma vida somente, aquela de Deus em nós e a de nós em Deus. Um com o outro. “O Senhor se voltou e olhou para Pedro” (Lc 22,61). “E Pedro saiu e chorou amargamente” (Lc 22,62). Os dois foram chamados a serem presbíteros. Um foi escolhido como o primeiro, o mais importante, e o outro tirou sua vida. Isto porque Pedro se arrependeu profundamente diante do Senhor e Judas diante de si mesmo. É a mesma entre a referência à cruz e a referência a si mesmo. Judas teve vergonha de si mesmo, enquanto Pedro, chorou amargamente diante do “olhar” do Senhor.

Neste momento, gostaria de elencar algumas atitudes próprias de quem tem uma divisão entre o ser natural e o ser sobrenatural, a vida humana e a vida da vocação. Nossa vida é única, ela nos pede uma só orientação. Acostumamo-nos com a oração de cada dia, todos os dias. A “negligência na oração” é o primeiro sinal de que algo não está bem. Existe uma constante entrega de si ao outro, aquele de cima, de quem olha a vida e a fé. Segundo lugar, a “substituição da oração pela ação”. Está ocupado demais para rezar, não tem tempo para isso. Terceiro lugar, “abrir mão da mortificação: tepidez”. Preparar-se bem para as homilias do domingo, dia do Senhor. Quarto lugar: “satisfação das carências, emoções e confortos da criatura”. Pedro sim, sempre, Simão, nunca mais.