30º Domingo do Tempo Comum – Leituras Iniciais
Coluna organizada por Nilo Pereira, segundo a exegese do Pe. Fernando Armellini, scj
1ª Leitura (Eclesiástico 35,12-14.16-18)
Deus que, como sabemos, pronunciará o julgamento definitivo e inapelável para o homem, que espécie de juiz é? Será semelhante aos juízes deste mundo?
No Antigo Testamento é dada esta ordem para quem, em Israel, administra a justiça: “Não aceitarás presentes porque cegam os olhos dos sábios e corrompem a palavra dos justos”. Sábia exposição! De um juiz que aceita presentes com certeza não é de se esperar a imparcialidade. Alguém pode pensar que, como os juízes humanos, também Deus possa ser corrompido por meio de presentes. Tomemos como exemplo um homem poderoso que não paga os seus trabalhadores condignamente e sabe que está cometendo um delito muito grave e que um dia deverá prestar contas a Deus pela exploração que está cometendo. Vai então ao templo ou à igreja oferecer generosa contribuição.
O Eclesiástico condena duramente esta falsa religião: “Não procures corromper o Senhor com doações, nada espere de um sacrifício injusto (vers.11) porque o Senhor é teu juiz e ele não faz distinção de pessoas” (vers.12). O que significa isso? Segundo o nosso modo de pensar, quer dizer que ele recompensa os bons e castiga os maus, sem fazer distinção entre pobres e ricos. Mas, eis a surpresa: Deus é justo porque se enternece diante do pobre. Quando se apresenta diante dele alguém que não tem merecimento algum para mostrar, alguém que só pode contar suas misérias (vers.13-14), ele se comove e sempre pronuncia uma sentença de salvação (vers.15-18).
2ª Leitura (2Timóteo 4,6-8.16-18)
Poucos meses antes de morrer, Paulo, ainda encarcerado em Roma, escreve ao seu amigo Timóteo, seu companheiro de trabalho na obra de evangelização e formação das primeiras comunidades cristãs. Sente que já se aproxima o dia em que deve deixar este mundo. Como é natural nestas horas, ele faz uma avaliação de toda a sua vida. Comportou-se – diz ele – como um atleta que participa de competições. Os atletas que devem lutar ou correr não fogem de nenhum sacrifício, submetem-se a renúncias e se esforçam até o seu limite para conquistar a vitória. Paulo tem certeza de que agiu como eles: empregou todas as suas energias pela causa certa: pelo Evangelho.
Aos atletas que venciam as competições no estádio, era entregue uma coroa. Paulo tem certeza que Deus entregará uma também para ele, no dia em que for acolhido na morada eterna. Esta coroa – continua ele – será também oferecida por Deus “a todos aqueles que aguardam com amor a sua manifestação” (vers.8), isto é, a todos aqueles que, como ele, lutaram pela justiça.
Paulo é o modelo para os dirigentes de comunidades, que devem ter um imenso amor por Cristo e uma fé sólida, testada nas dificuldades e perseguições. Só quem passou por essas experiências dolorosas está em condições de arrastar, não só com as palavras, mas com o exemplo da sua vida, as pessoas que lhe foram confiadas.