As primeiras missões populares

Coisa que chamou a atenção do Padre Taddei no Brasil foi o Catolicismo muito diferente do que estava acostumado a conviver e trabalhar em Roma. A velha tradição brasileira do padroado, acordo político entre Igreja e Estado, fazia das Irmandades religiosas celeiros de gente cheia de fé, mas poucas práticas religiosas. Gente que não se confessava, não comungava, não assistia à missa dominical. A Igreja servia para as devoções mas, muitas vezes, misturadas às crenças africanas e às velhas práticas indígenas de cura e rezas.
O que dizer então do Jansenismo, espécie de heresia praticada em muitas cidades antigas paulistas, que colocava Jesus sacramentado muito distante das pessoas, por isso elas deveriam estar tão puras para a comunhão, que mesmo aquelas faltas pequeninas tinham que ser acusadas no confessionário. Marca disso são os tronos do Santíssimo Sacramento, na parte mais alta do retábulo dos altares das igrejas barrocas, quase no teto, completamente distante do povo. Quase ninguém comungava.
Padre Taddei queria extirpar essa confusão das consciências do povo, pregar uma religião mais próxima, um Jesus misericordioso, não só festivo e muito menos distante, mas um amigo de todas as horas, para quem as pessoas deveriam abrir os corações. Com esse espírito de caridade e paciência, em 1869, iniciou as santas missões populares, que percorreram as cidades em torno de Itu.
As missões eram dadas durante as férias escolares. Padre Taddei, sempre acompanhado de outro jesuíta, percorreu, ao longo de dez anos, inúmeras cidades paulistas. Eram semanas dedicadas a sermões e confissões, mas nada enfadonho. Tão logo chegavam à cidade, os padres reuniam o maior número possível de pessoas na igreja e iniciavam a pregação falando do amor de Jesus, convidando o povo à conversão. Eram práticas rápidas, depois vinha o catecismo, de maneira clara, profunda, interessante, prendendo a atenção do povo. Finalmente, as confissões.
Nesse momento, as pessoas chegavam ao choro, tamanho o arrependimento e contrição. Os padres confessavam cerca de duas mil pessoas por missão. Mas, em Piracicaba, foram quatro mil e oitocentas. Taddei considerou-a uma revolução na cidade. Os padres dormiam pouquíssimo; confessavam catorze a dezesseis horas por dia. Faziam-se também procissões de penitência e, o mais importante, a comunhão geral. Uma delas de oitocentas pessoas.
As missões não tinham somente caráter espiritual; havia também um cunho social. O padre Taddei organizava e dirigia o povo para a construção de pontes, abertura de canais, reforma de igreja, erguimento de salão paroquial; instruía os moradores a visitar os doentes. Com eles fundou hospitais e santas casas, a fim de abrigar o povo pobre, sem recurso para cuidados com a saúde.
Essas peregrinações tomavam o tempo das férias. Depois ele voltava para Itu, sem descanso, para o reinício das aulas do Colégio São Luís. Ao longo de quarenta e cinco anos o missionário, incansável, tomou a si o compromisso de converter o povo brasileiro à fé católica.
Luís Roberto de Francisco
Biblioteca Histórica “Padre Luiz D’Elboux”
