Propagação do ódio e dos crimes: a guerra fratricida
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por Olga Sodré

 

Aos cinquenta anos, em meio à pandemia, descobri o velho Alceu Amoroso Lima (1893 – 1983), cujo pseudônimo nos jornais cariocas era Tristão de Athayde. Quando escrevi minha dissertação de Mestrado, li sobre ele no contexto do Centro Dom Vital, fundado no Rio de Janeiro por Jackson de Figueiredo, um dos grandes do tempo da Ação Católica (década de 1930). Mas não conhecia o escritor e cronista, sobretudo o pensador católico que me envolveu.
Moço rico, herdeiro de uma fábrica no Rio de Janeiro, foi educado na França e na capital federal, formando-se em Direito. Inicialmente encaminhou-se à diplomacia. Depois se envolveu com a tecelagem da família; finalmente tornou-se professor universitário, um dos fundadores da PUC- RJ ao lado do padre Leonel Franca.
Alceu estava em Paris quando estourou a Primeira Guerra Mundial e assistiu ao fim da Belle Époque. De volta ao Brasil, conviveu com escritores de seu tempo, inclusive os pioneiros da literatura modernista, grande amigo de Manuel Bandeira. Aderiu ao movimento em 1922.
Alceu se casou com Maria Teresa de Faria, filha do escritor Alberto de Faria, que levou o genro à Academia Brasileira de Letras, em 1935. Desse casamento nasceram cinco filhos, dentre eles a Lia, que viria a ser a beneditina Madre Maria Teresa, no Mosteiro de Santa Maria, em São Paulo. O afastamento da filha foi um choque para a família. A condição para sua entrada à vida religiosa era que o pai pudesse escrever a ela diariamente, o que fez por mais de quarenta anos, até a sua morte.
Naquele tempo em que as cartas eram o meio de comunicação mais comum, os intelectuais se utilizavam delas não somente para notícias, mas para discutir ideias e ideais. Assim, em 1928, ele trocou famosa correspondência com Jackson de Figueiredo que culminou na sua conversão ao Catolicismo. O intelectual Alceu não só passou a enxergar o mundo, a filosofia e a própria existência pelo viés espiritual, como se tornou militante no Centro Dom Vital, após a morte repentina de seu fundador. Inicialmente, Alceu era um pensador da ultradireita. Depois percebeu quanto mal essas teorias nefastas fizeram ao mundo durante a II Guerra Mundial e passou a repudiá-las com veemência.
Tenho lido, há alguns meses, com vagar, as “Cartas do pai”, edição organizada pela Madre Maria Tereza, com 670 páginas. Trata-se de uma viagem no tempo, entre 1958 e 68, observando as mudanças no Brasil, no mundo e na Igreja pela ótica do intelectual: quanto mais o Vaticano II abria o Catolicismo para um novo tempo, preparando a Humanidade para ser mais verdadeira no essencial da fé, o Brasil e a América Latina sofriam a interferência dos Estados Unidos e de parcela do Exército impondo uma ditadura antidemocrática ao país.
Terminando as Cartas vou me debruçar sobre a biografia de João XXIII, escrita por ele, que considera esse papa o grande homem do século XX. Pena o velho Alceu não ter chegado ao nosso tempo para conhecer o atual pontífice!