Pe. Jose Ramon Zabala
Entre 1935 e 1958 o padre Zabala viveu em Itu por diversas vezes, sobretudo ocupando-se da direção musical do Coro do Bom Jesus, o que ofereceu à cidade e àquela comunidade uma condição de excelência artística, dado o repertório europeu introduzido por ele, além de arranjos próprios e exclusivos, ainda hoje interpretados pelo grupo. Além disso, foi exímio latinista, que encontrou em Itu um desconhecido manuscrito de poema do padre José de Anchieta, que ele traduziu e foi publicado na década de 1960.
Jose Ramon Hilario Zabala y Angulo nasceu a 14 de janeiro de 1892 em um navio a caminho do Uruguai, quando a família vinha da Espanha. Foi registrado em Montevidéu. Ao retornar ao país de origem foi viver em Vitória. Fez os estudos regulares em Bilbao e entrou para a Escola Apostólica dos jesuítas em Bordeaux (França); de lá foi transferido em 1909 para a Escola Apostólica em Itu. Desde jovem teve enorme apreço pela história e missões do padre Anchieta daí seu interesse em entrar para a Companhia de Jesus no Brasil. A 29 de outubro do mesmo 1909, em São Paulo, Zabala iniciou o noviciado jesuíta, onde fez os estudos clássicos de línguas e literatura.
Um mal entendido entre ele e seus superiores tomou proporções colossais e Zabala ficou impedido de ser ordenado sacerdote. Portanto a sua formação em Filosofia, Teologia e Música se estendeu por toda a década de 1920, em diversas universidades entre Roma e Innsbruck.
Zabala foi professor de música e canto no Colégio São Luís de Itu desde 1915 e se mudou para São Paulo com o educandário em 1918. Depois esteve em Nova Friburgo, formando um notável coro de estudantes. Foi finalmente ordenado padre em Santa Maria (RS) em 1935.
De temperamento sanguíneo, as atitudes do religioso variavam de emotivo e explosivo a generoso e moralista. Aplicou as regras do Motu Proprio sobre a música sacra, inaugurando um repertório antes desconhecido no Brasil, de compositores como Perosi e Camatari.
Em 1946 uniu os coros já existentes na igreja do Bom Jesus, das congregações marianas feminina e masculina, formando um grupo polifônico cuja clássica fotografia revela o conjunto que interpretou a Prima Missa Pontificalis (Perosi) na celebração dos 75 anos de fundação do Apostolado da Oração no Brasil.
Zabala esteve em missões rurais em Diamantino (MT) e Anchieta (ES) onde, finalmente pôde viver entre indígenas.
É célebre a narrativa do padre Fernando Bastos de Ávila, jesuíta, imortal da Academia Brasileira de Letras, sobre seu antigo mestre: “lembro que uma vez, quando ainda no colégio fora visitá-lo, ele estava chorando de emoção: tinha diante de si apenas uma partitura musical que ele solfejava sem conseguir conter as lágrimas.”
Zabala viveu seus últimos anos no Bom Jesus, rigoroso confessor e cativante regente do Coro. Merece um estudo extenso de sua biografia.
Em abril de 1958 foi transferido ao Rio de Janeiro para tratamento médico, onde faleceu a 20 de dezembro.
Luís Roberto de Francisco
Biblioteca Histórica “Padre Luiz D’Elboux”