Cristo, o nosso mediador
“Ele é a Cabeça do corpo, que é a Igreja” (Cl 1,18).
Caros leitores e leitoras: um mediador é aquele que age como um intermediário para aproximar lados opostos e trabalhar com eles, buscando uma posição intermediária, aceita por ambas as partes. Um mediador tenta influenciar um desacordo entre as duas partes, com o objetivo de resolver uma disputa. A fé cristã nos ensina que há apenas um mediador entre a humanidade e Deus, e esse é Jesus Cristo. É isso que lemos na segunda leitura do próximo domingo, o 15º Domingo do Tempo Comum, tirada do Capítulo 1 da Carta de São Paulo aos Colossenses.
Colossos era uma pequena cidade da Ásia Menor (hoje a Turquia), distante 200 km de Éfeso, uma importante cidade naquela região. A comunidade cristã de Colossos foi fundada por Epafras, discípulo de Paulo (cf. Cl 4,12). Os cristãos de Colossos eram provenientes do paganismo e costumavam reunir-se nas casas de família. A Carta aos Colossenses foi escrita por Paulo, quando estava na prisão, provavelmente em Éfeso, entre os anos 55 e 57.
Os cristãos daquela localidade estavam ameaçados por uma heresia que misturava elementos pagãos, judaicos e cristãos. Os seus seguidores davam muita importância aos poderes angélicos, às forças cósmicas e a outros seres intermediários entre Deus e o homem, que teriam papel importante na salvação e felicidade de cada pessoa.
São Paulo mostra então que Cristo é o mediador único e universal entre Deus e o mundo criado; tudo se realiza por meio d’Ele, desde a criação até a salvação e a reconciliação de todas as coisas. Deus colocou Jesus Cristo como Cabeça do universo, e os cristãos, que com Ele morrerem e ressuscitarem e a Ele permanecem unidos, não devem temer nada e a ninguém: “Ele (Cristo) é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação, pois é nele que foram criadas todas as coisas, no céu e na terra, os seres visíveis e invisíveis, tronos, dominações, principados e potestades; tudo foi criado por ele e para ele. Ele existe antes de todas as coisas e nele todas as coisas têm consistência. Ele é a Cabeça do corpo, que é a Igreja” (Cl 1,15-18).
Assim, Cristo é o Mediador, a ponte que atravessamos para nos dirigirmos ao Pai. É o Mediador por excelência. Cada oração que elevamos a Deus é por Cristo, com Cristo e em Cristo, e realiza-se graças à sua intercessão. O Espírito Santo atualiza e alarga a mediação de Cristo a todos os tempos e lugares e, portanto, não há outro nome pelo qual podemos ser salvos (cf. At 4,12). Santo Agostinho afirma: “Ele (Cristo) é mediador de Deus e dos homens, porque ele é Deus com o Pai e homem com os homens. O homem não poderia ser mediador, separadamente de sua divindade; Deus não poderia ser mediador, separadamente de sua humanidade. Eis o mediador: a divindade sem a humanidade não é mediadora; a humanidade sem a divindade não é mediadora; mas entre a divindade sozinha e a humanidade sozinha se apresenta como mediadora a divindade humana e a humanidade divina do Cristo” (Sermão, n. 47, 21).
Da mediação única de Cristo adquirem significado e valor as outras referências que o cristão encontra para a sua oração e devoção: em primeiro lugar, nossa oração dirigida à Virgem Maria, Mãe de Jesus e nossa Mãe. Ela ocupa um lugar privilegiado na fé cristã e, portanto, também na oração do cristão, porque ela é a Mãe de Deus, Mãe de Jesus. Mas também entram na mesma situação os Santos e os Anjos, pois, mesmo que Cristo seja o único mediador, não significa que tenha terminado o papel dos seres humanos e dos anjos na história da salvação. A mediação de Jesus se utiliza de pessoas humanas, a quem Jesus confia uma missão a viver na sua Igreja, por exemplo; ou na vida eterna Jesus Cristo, em certa maneira, associa a sua mediação aos membros de seu Corpo que entraram na glória, para que sejam nossos intercessores. De modo que, associados à realeza e à mediação de Cristo, os santos apresentam a Deus as orações dos fiéis da Igreja militante a caminho da vida plena e eterna.
Afirmar, então, que Jesus é Mediador é de uma riqueza incomparável na ordem teológica e humana, significa que o céu e a terra se encontram em Jesus Cristo. Bendigamos e adoremos, pois, para sempre, o nosso divino Mediador, que estendeu até nós a alegria da salvação e da vida divina.
A todos abençoo.
Dom Vicente Costa
Administrador Apostólico de Jundiaí – SP