Toponímia ituana
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porProf. Luís Roberto
de Francisco

Ainda conheci diversas pessoas que jamais chamaram a Rua Paula Souza por este nome, somente “Rua Direita” ou mesmo “Rua da Palma” à “dos Andradas”. A mudança da nomenclatura em ruas e praças do centro de Itu teve início há cem anos, imposição do governo na celebração do primeiro centenário da independência do Brasil e foi digerida lentamente.
A toponímia mais antiga de nossa terra foi dada pelos indígenas, “Utu”, “Apotribu”, “Pirapitingui” para designar a região e os bairros; os logradouros, porém, ganharam nomes da tradição ibérica: Rua Direita geralmente é que nasce à direita da igreja, primeira rua do lugar, em nosso caso ligando a matriz velha à nova. O título “Rua do Comércio” foi em função da atividade econômica. “Rua das Flores” e “Rua da Palma” vieram do gosto popular, bem como as vias com nomes religiosos: Santa Cruz, Santa Rita e Santana, mantidos até a atualidade.
As velhas denominações nasciam do falar do povo, invenções do cotidiano: Beco do Fuxico, Becão, Beco dos Quatro Cantos, Rua Piraí, Rua da Quitanda e por aí vai. O crescimento da “Vila de Itu”, dentre os séculos XVII e XIX, foi lento, ampliando-se vias, nascendo novos caminhos paralelos aos mais antigos, sobretudo no período açucareiro, como demonstram as plantas antigas da cidade. Essa origem portuguesa, cujo plano se assemelha a diversas outras cidades brasileiras do período, viu diversos partidos arquitetônicos diferentes, desde as acanhadas construções seiscentistas aos suntuosos sobrados e casario eclético do tempo do império.
Com a república veio a preocupação em ajardinar os largos, o que aconteceu inicialmente em 1893 junto à matriz, aliás, primeiro espaço a receber o nome de uma pessoa em Itu, por iniciativa do vereador Tristão Mariano da Costa: Praça Padre Miguel, homenagem ao extraordinário pároco que morrera um ano antes na epidemia de febre amarela. Os jardins trouxeram outras formas de sociabilidade e convivência tirando um tanto da feição acaipirada dos velhos terreiros fronteiros às igrejas, alguns inclusive calçados, junto a São Francisco e ao convento do Carmo.
Interessante que chamamos hoje, à maioria das ruas pelos seus nomes oficiais, de personalidades do império ou da república, mas as praças – em nosso falar – mantiveram o antigo título de “Largo” e a denominação religiosa relativa. Escrevo “chamamos” pensando na parcela da população que tem certa idade e contato com a região central da cidade. Muitos cidadãos, novos personagens em nossa história, chamam os lugares pelo nome de certo comércio, escola ou instituição próxima. Essa informalidade também faz parte da cíclica toponímia, porque a cultura é dinâmica.
Ao criar um zoneamento na região central, o CONDEPHAAT preocupou-se em manter o traçado urbano e o gabarito das construções, mas também em chamar a atenção sobre essa porção preciosa do município.
Convido o leitor a andar pelo nosso centro, fazer um percurso pelo tempo e pela história de Itu guiado pelas placas de ruas que, há quase vinte anos, indicam os nomes antigos, época de sua abertura e as denominações atuais.