Um coração semelhante ao Dele
“Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29).
Caríssimos leitores e leitoras: uma das formas de se detectar a vida é pelo bater do coração. Na vivência da fé, também podemos perceber um coração que bate ardentemente de amor por nós: o Sagrado Coração de Jesus. Por amor a ele, entreguemo-nos a uma breve reflexão sobre este grande mistério, dado que celebraremos a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus no próximo dia 24 deste mês de junho.
Ao falarmos de “coração”, estamos nos referindo à centralidade de cada pessoa, à sua intimidade e totalidade. Assim, refletir sobre o “Coração” de Jesus é pensar na segunda Pessoa da Santíssima Trindade que, assumindo a natureza humana, resgata o ser humano ferido pelo pecado. O amor que pulsa nesse Coração é a grande novidade da Nova Aliança e é para toda criatura humana a possibilidade concreta de amar sem limites.
Na cruz, Jesus entregou-se de todo coração pela salvação da humanidade. Seu lado aberto (cf. Jo 19,34) tornou-se símbolo claríssimo de que o amor de Deus pelo ser humano ultrapassou todos os limites. Contemplando o Coração de Jesus, fica ainda mais compreensível o amor de Deus pela humanidade. É um amor de compaixão e perdão, acolhimento e misericórdia. É um amor que se revela até mesmo pelo infiel e pecador. Um amor capaz de assumir a entrega até as últimas consequências, para devolver aos seres humanos a graça da filiação divina.
São João Paulo II em sua Carta Encíclica sobre a Misericórdia Divina, Dives in Misericordia (30/11/1980), afirma que a Igreja professa e venera a misericórdia de Deus, voltando-se para o Coração de Cristo (n. 13) e que a revelação da misericórdia do Pai constitui para Cristo o conteúdo central de sua missão (n. 15). Assim, não há dúvida de que o Coração de Jesus é sinal eloquente da misericórdia divina pela nossa salvação. O amor infinito de Deus atinge, através da porta aberta do Coração de Jesus, o coração de cada pessoa.
O próprio Jesus define a si mesmo, afirmando que seu Coração é manso e humilde (cf. Mt 11,29). Sua mansidão revela uma bondade que acolhe com ternura, que cuida, cura e perdoa. Sua humildade nos mostra o desejo de se tornar o servo de todos, de se oferecer em sacrifício por todos e por cada um, sobretudo em favor dos pequeninos, os sem privilégio, os marginalizados. De fato, o pobre encontra no Coração de Cristo um porto seguro de amor, um bálsamo de caridade para suas feridas. Os desvalidos recebem desse Sagrado Coração o consolo e a esperança que o mundo não oferece.
A maior prova de amor do Coração de Jesus por nós se dá na Eucaristia. Neste Sacramento o Cristo se faz realmente presente em nosso meio, diuturnamente, aguardando-nos no sacrário e oferecendo-se na forma de comida e bebida, para nossa fortaleza espiritual. É maravilhoso constatar que, quando participamos da ceia eucarística, estamos nos alimentando da fonte do Coração aberto de Jesus.
A comunhão com esse Coração, que se doa perpetuamente por amor de nós, é que vai transformando e melhorando o nosso próprio coração. O encontro frequente com o Coração de Jesus, vivo e palpitante na Eucaristia, realmente faz com que o nosso coração vá, aos poucos, se assemelhando ao dele. Não nos esqueçamos também de encontrar o Coração de Jesus palpitando nos pobres e necessitados, a quem devemos ajudar com amor e generosidade.
Caríssimos leitores e leitoras: saibamos colocar toda a nossa confiança no Sagrado Coração de Jesus. Saibamos aprender com o Mestre a melhor maneira de levar uma vida com atitudes e testemunhos de verdadeiros discípulos missionários, nesse grande desafio que é compartilhar o mandamento do amor.
O constante convite de Cristo é para que tenhamos a devida disposição de imitá-lo em seus gestos, palavras e atitudes. O desejo do Senhor é que o amor seja o maior sinal, o grande distintivo, o enorme diferencial dos cristãos. Os verdadeiros devotos colocam o amor de Cristo dentro do próprio coração, a cada dia e a cada minuto. E alegres, continuemos pedindo, todos juntos: Sagrado Coração de Jesus, fazei o nosso coração semelhante ao Vosso!
E a todos abençoo.
Dom Vicente Costa
Administrador Apostólico da Diocese de Jundiaí