Ser comunidade
Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG)
A palavra “comunidade” significa ter algo em comum. Mas a questão é saber o que nós temos em comum. Em concreto, temos uma tradição, temos direitos e deveres, compromissos e orientações. No âmbito da fé cristã, é comum o batismo, porque dele origina a tarefa do seguimento de Jesus Cristo, de combate ao mal, de realizar tarefas comunitárias e cultivar na vida a fé no Deus Uno e Trino.
A comunidade cristã é fruto de uma sabedoria divina, que tem como modelo a Trindade Santa, a relação entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo, expressando uma realidade comunitária. É diversidade na unidade, fato que também precisa acontecer na convivência entre as pessoas, e assim superar todo tipo de individualismo e fechamento que dificulta a fraternidade e a vida comunitária.
Falar da Festa da Santíssima Trindade significa fazer alusão ao bonito gesto da partilha, tanto das dores, sofrimentos e derrotas como das alegrias e vitórias, que envolvem a todos nós. Tudo isto significa forte empenho para a superação dos fatos que dividem a comunidade, isto é, taxar as pessoas dos extremismos desordenados entre ultrapassado ou moderno, conservador ou progressista.
Na verdadeira comunidade é colocado em grande evidência o espirito de cooperação, o sentimento de pertença e de ajuda mútua entre as pessoas. A bíblia apresenta alguns modelos dessa realidade, onde tudo era dividido e ninguém passava necessidade. As principais decisões passam a ser tomadas com anuência de todos, tendo como objetivo principal a realização do bem comum (cf. At 2,44-47).
O que fortalece a vida de uma comunidade é a tônica do dom da verdade, fonte da confiança e do respeito. A verdade é como um sopro do Espírito de Deus e exige das pessoas uma postura que as dignifica na prática da credibilidade. Nessas circunstâncias se pode dizer de um cristianismo que se torna visível. Nele as pessoas não são vistas como ilhas, como guetos e espaço de privilegiados.
A comunidade é lugar de partilha das dores e das alegrias, lugar de vida, mas vida com dignidade, em abundância (cf. At 10,10), onde estão as virtudes e as fragilidades inerentes ao ser humano. Mesmo assim, é um lugar de amor, definido pela presença de Deus como Pai, Filho e Espírito Santo. É lamentável quando reina o ódio, a violência, a exploração e desamor. Assim as pessoas não são felizes.