Cuidado com o mito da eterna juventude, rugas são símbolo da vida
O Papa se inspirou na figura do ancião Nicodemos na catequese desta quarta-feira, dando continuidade ao ciclo sobre a velhice.
Nicodemos é um dos chefes dos Judeus e está entre as pessoas idosas mais relevantes nos Evangelhos. No seu diálogo com o Mestre, manifesta-se o coração da Revelação de Jesus e de sua missão redentora: “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3, 16).
Quando Jesus lhe diz que é preciso “nascer do Alto”, Nicodemos apresenta como objeção a velhice. Mas, à luz da palavra de Jesus em resposta a esta objeção, descobrimos que a velhice não é um obstáculo a este novo nascimento, e sim o tempo oportuno para entendê-lo. O “nascimento do Alto”, que nos permite entrar no reino de Deus, é uma nova geração no Espírito.
O mito da eterna juventude
Para o Pontífice, esta objeção é muito instrutiva, pois a nossa época e a nossa cultura mostram uma tendência preocupante para considerar o nascimento de um filho como uma simples questão de produção e reprodução biológica do ser humano e cultivam então o mito da juventude eterna como a obsessão – desesperada – da carne incorruptível.
A velhice, prosseguiu o Papa, é desprezada porque traz a prova irrefutável do despedimento deste mito, que nos faria regressar ao ventre da mãe, para sermos eternamente jovens no corpo. Uma coisa é o bem-estar, disse , outra coisa é a alimentação do mito, com inúmeras cirurgias e tratamentos estéticos. O Papa citou uma frase da atriz Anna Magnani, que não queria que suas rugas fossem tocadas, já que havia levado uma vida inteira para tê-las.
“É isto: as rugas são um símbolo da experiência, um símbolo da vida, um símbolo da maturidade, um símbolo do caminho percorrido. Não tocá-las para se tornar jovens, mas jovens no rosto: o que interessa é toda a personalidade, o que interessa é o coração, e o coração permanece com aquela juventude do vinho bom que quanto mais envelhece, melhor fica.”
Os idosos são os mensageiros da ternura
A vida em nossa carne mortal é uma belíssima obra inacabada, como algumas obras de arte que, apesar de incompletas, possuem um fascínio único. Porque a nossa vida aqui na terra é iniciação, e não consumação. A fé, que acolhe o anúncio evangélico do reino de Deus ao qual estamos destinados, nos torna capazes de ver os sinais de esperança nesta nova vida em Deus. A velhice é a condição na qual o milagre do “nascimento do alto” pode ser assimilado intimamente e tornar-se sinal de credibilidade para a humanidade.
Nesta perspectiva, a velhice tem uma beleza única: caminhamos rumo ao Eterno. Ninguém pode voltar a entrar no ventre da mãe, nem sequer no seu substituto tecnológico e consumista. Isso seria triste, mesmo que fosse possível. O velho caminha para a frente, em direção ao destino, rumo ao céu de Deus. A velhice, por conseguinte, é um tempo especial para dissolver o futuro da ilusão tecnocrática de uma sobrevivência biológica e robótica, mas sobretudo porque se abre à ternura do útero criador e gerador de Deus.
O Papa então destacou uma palavra: a ternura dos idosos, a ternura com a qual se relacionam com os netos. Estar ternura nos ajuda a compreender a ternura de Deus. “Deus é assim, sabe acariciar.”
“Os idosos são os mensageiros do futuro, os mensageiros da ternura, os mensageiros da sabedoria de uma vida vivida. Vamos em frente e olhemos para os idosos.”