Presente de Páscoa: ‘caminho e porta para a nova humanidade’
por Olga Sodré
Qual o sentido da Páscoa em nossa caminhada espiritual e para onde caminhamos?
As pessoas estão cansadas de pandemia, guerras, crises sócio-políticas e humanitárias. Anseiam para que passem. Enquanto as mulheres experimentam as dores do parto, desejam que terminem, mas suportam-nas pela esperança do nascimento. Nessa expectativa, empregam forças para que isso aconteça. Cito tal experiência como metáfora do esperançoso parto da nova humanidade, e não da ‘nova ordem mundial’ sendo arquitetada.
Desde a antiguidade, os povos enfrentam calamidades, impérios e dominações. Esse processo vem se ampliando até atingir dimensão global e abalar os alicerces da vida em nosso planeta. As forças destrutivas estão se exacerbando e espalhando sementes de ódio, confrontos, agressões e divisões entre países, familiares e amigos. Alguns líderes estimulam essas tendências para conquistar o poder.
Podemos mudar nossas relações, maneiras de ser, convivência e integração à natureza, gerando outro modo de vida. Para avançarmos nessa direção, é preciso saber por onde queremos ir, escolher um caminho e como chegar lá. É importante transformar as condições da vida política, econômica e social. Contudo, essas mudanças externas são insuficientes se as pessoas e grupos escolhidos para ocuparem o poder continuarem movidas pelas tendências destrutivas, pela ganância, violência e egoísmo.
Enquanto forças de ódio, divisão, guerra e morte estiverem ativas, elas serão capazes de destruir a própria pessoa e os outros. É possível superar tais tendências individualmente pelo caminho interior. Todavia, há nele a limitação e risco de fechamento em nós mesmos e separação dos que lutam para transformar o mundo e as condições da vida social.
Para progredirmos rumo a uma transformação radical é preciso andar por um caminho de mudança interior e exterior que reconstrua completamente a humanidade, estabelecendo uma nova forma de ser, estar e conviver. O nascimento dessa nova humanidade não é um processo fácil. Para realizá-lo teremos que passar pelas dores do parto de restauração da criação, num processo semelhante ao nascimento de uma nova vida ou de uma nova estrela. Esta nasce a partir de um violento processo de ‘explosão’ nuclear, que ocorre nas imensas nuvens de gás das nebulosas cósmicas e dá vida a novas estrelas.
Não sabemos como e quando ocorrerá o nascimento da nova humanidade, mas a celebração da Páscoa de Cristo aponta um caminho nesta direção. Páscoa significa “passagem”, que é descrita no Antigo e Novo Testamento como uma libertação do povo da escravidão. A ressurreição de Jesus Cristo indicou ser ela uma passagem da morte para uma nova vida. Ele nos legou um caminho de transformação de nós mesmos e de nossas relações, revelando-se como a porta de acesso ao processo de transmutação da humanidade e criação de um novo mundo.
Cristo ensinou como andarmos até lá, orientando nossos passos numa caminhada conjunta dos seres humanos rumo à nova criação. Nossas limitações humanas na transmissão e interpretação desses ensinamentos são sérios obstáculos à compreensão deles. Quando corretamente esclarecidos, cada momento pessoal e histórico é uma ocasião favorável para transformação. Podem assim se tornar passos para superarmos as forças destrutivas de poder, divisão, dominação e morte tanto fora como dentro de nós.