Guerra cibernética e guerra de informações
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Novas armas ameaçam a democracia e a paz

A guerra atual ocorre não apenas no terreno físico, mas também no espaço virtual (ciberespaço) sem barreiras geográficas. Na guerra cibernética os ‘inimigos’ invadem empresas, instituições e nações por meios eletrônicos e informáticos, realizando ataques digitais, roubo de dados, represálias, intrusões ilícitas de computadores ou redes, espionagem e até destruições físicas à distância. Neste novo espaço, ainda sem legislações específicas, interfere-se nos comportamentos individuais e coletivos, inclinações e preferências políticas. Assim sendo, vêm aumentando os esforços para regularizar as comunicações nas redes que coloquem em risco a democracia, segurança e atividades políticas.

Nos conflitos políticos, a guerra cibernética está intimamente associada à guerra de informações. Ambas foram impulsionadas pelo desenvolvimento tecnológico da comunicação, porém é fundamental identificar suas raízes em métodos de invasão das mentes. Estes foram concebidos, amplamente utilizados e aperfeiçoados pela propaganda nazista. Num texto de Nelson Werneck Sodré (recentemente publicado na revistaopera.com.br) sobre a manipulação da verdade pelo nazismo, ele desnuda o mecanismo de comunicação que transforma a mentira em verdade, usando-a para dominação política e consolidação do poder autoritário por meio de uma propaganda alicerçada no ódio contra inimigos escolhidos.

Para ganhar o poder e nele manter-se, líderes autoritários precisam controlar as ideias e usar disfarces que os favoreçam, particularmente aqueles que permitem a confusão entre verdade e mentira. Não tendo condições de enfrentar o debate e a aceitação livre, eles se impõem pela desinformação e distorção da verdade, desencadeando épocas de trevas nas consciências humanas.

Pela manipulação da linguagem, tais governos são apresentados como uma saída democrática, o conhecimento e a cultura são degradados e a mentira é consagrada como verdade. Afrontando e desprezando crenças, convicções e direitos, eles manipulam a opinião pública e tornam difícil esclarecer a verdade. Espanto-me ao ver lideranças (inclusive religiosas) reproduzindo discursos que distorcem os fatos e iludem seus seguidores em nome da moralidade.

Representantes antidemocráticos e vertentes atuais do nazismo utilizam a propaganda e doutrinação das massas, aparelhando o poder com múltiplos recursos da tecnologia, montagem das notícias, distorção das informações e censura aos meios de divulgação. Constrói-se um sistema repressivo e policial que age acima das leis e de qualquer respeito pela criatura humana.

Escudando-se na mentira, as vertentes autoritárias buscam sufocar, banir e matar os que defendem a verdade. Aqueles que ousam dizer ou escrever a verdade são perseguidos, denegridos e eliminados. A ignorância é valorizada. Procura-se esconder a realidade das crises sociais e suas causas, substituindo-a por narrações ilusórias.

Nelson Werneck Sodré destaca que os povos sobrevivem aos desastres, crises e sofrimentos, na medida em que conseguem distinguir a verdade, afirmá-la e amá-la, como condição fundamental para seu avanço e exercício da liberdade. Não por acaso, Cristo nos adverte sobre a relação do mal com a mentira, apresentando-se como o ‘Caminho, a Verdade e a Vida’. A mentira pavimenta a estrada do mal com as pedras do ódio, divisão e ambição de poder que conduzem às guerras. Ela escraviza e leva à morte, inclusive espiritual. A verdade ilumina, liberta, acaba sempre emergindo e enterrando seus opressores.