5º Domingo da Quaresma – Leituras iniciais
por Nilo Pereira
Sugerimos que antes de lerem estes comentários, façam as leituras na Bíblia.
1ª Leitura (Isaias 43,16-21)
Nós todos passamos por momentos de crise. Muitas vezes vemos que os espertos vão acumulando riquezas e obtendo sucesso, ao passo que os pobres são obrigados a submeter-se a injustiças sempre maiores.
É verdade sim – como nos contaram – que Deus antigamente libertou os oprimidos, restabeleceu a justiça, concedeu a salvação, mas nós não vimos nada disso. É o que pensavam os israelitas, derrotados e humilhados na Babilônia.
Voltando para casa no fim da tarde, extenuados, queimados pelo sol, se lastimavam, lembrando os tempos passados: recordavam o que Deus fizera por seus pais no Egito e no deserto. Por que não os repetia? Por acaso se esquecera do seu povo? Os brados dos pobres e dos oprimidos já não o comoviam?
A resposta de Deus a estas angustiantes indagações nos é dada na leitura de hoje. Deixai de recordar o passado, deixai de remoer as coisas antigas. Prestai atenção! Estou para realizar uma obra muito mais extraordinária do que a de antigamente! (vers.18-19).
Mas o que é que vai fazer o Senhor? Ele libertará o seu povo da escravidão da Babilônia, vai reconduzi-lo à sua terra, abrirá um caminho no deserto, fará brotar nascentes de água, ao lado de animais selvagens, como no paraíso terrestre. Ele não agiu somente no passado, ele continua agora manifestando o seu amor, realizando coisas extraordinárias. É preciso, porém abrir os olhos! No Evangelho deste domingo poderemos verificar se estamos em condições de entender e aceitar este seu modo de agir. Ele nos colocará de frente a um gesto de salvação desconcertante, “escandaloso”, totalmente novo. Saberemos aceitá-lo?
2ª Leitura (Filipenses 3,8-14)
O cristianismo exige um coração jovem, em condições de aceitar as novidades. Jesus era jovem, não se limitava a repetir as coisas ensinadas pelos rabinos do passado.
Paulo também tinha um coração jovem; era um fariseu, cumpria com fidelidade e defendia ferozmente a lei; tinha a plena convicção de que conseguiria salvação mediante o cumprimento de todas as tradições dos antigos, mas depois que encontrou Cristo imediatamente rompeu com o passado e aceitou a novidade do Evangelho.
É difícil romper com o passado de uma hora para outra. Imaginemos como é difícil renunciar a um modo de pensar que assimilamos desde a infância, segundo a qual consideramos lógico, normal e certo, acumular bens materiais e administrá-los sem remorsos, buscar vantagens para si mesmo, competir com os outros ao invés de servi-los, guardar rancor pelas desfeitas recebidas, gozar a vida sem qualquer preocupação pelas necessidades dos demais.
Sabemos, contudo, que estas atitudes não são compatíveis com a nova vida que Cristo pediu aos seus discípulos. Não é fácil aceitar à sua maneira de pensar; está se choca frontalmente com tudo aquilo que sempre julgamos certo. Às vezes parece “escandalosa”, como muitos também classificarão o trecho proposto no Evangelho de hoje.