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por Nilo Pereira

1ª Leitura (Jeremias 1,4-5.17-19)
Jeremias talvez não tivesse nem vinte anos quando percebe o chamado de Deus para ser profeta. É possível que tenha imaginado formar uma família, viver tranquilamente em Anatot, a aldeia dos seus antepassados, mas antes mesmo de ser concebido no seio de sua mãe, Deus o escolheu para uma missão difícil e arriscada: anunciar a sua Palavra aos reis, governadores, sacerdotes e a todo o povo.
É surpreendente: o profeta nunca é um personagem aplaudido e elogiado pelas multidões, e menos ainda pelos que retém em suas mãos o poder. Por que acontece isso? Porque o profeta contempla o mundo com os olhos de Deus. Uma energia irresistível, divina, o impele a erguer a voz para denunciar o pecado, as opressões, a exploração, a violência e a incompetência daqueles que conduzem o povo à ruína.
Para essa espinhosa missão é chamado Jeremias, o jovem tímido e sossegado, destinado a se tornar “objeto de disputa e de discórdia em toda a terra (Jr 15,10).
Na segunda parte da leitura (vers.17-18) Deus anuncia a Jeremias o que lhe acontecerá: não o engana, não lhe promete uma vida fácil. Será – lhe diz o Senhor – como um soldado acorrentado pelos inimigos, como uma fortaleza cercada por um exército sedento de sangue.
Não está registrada nesta leitura a objeção do profeta diante deste chamado (vers.6): “Ah! Senhor Javé, eu nem sei falar, pois que sou apenas uma criança!”. É a mesma objeção que cada um levanta quando se sente chamado pelo Senhor para uma missão difícil, quando é enviado para anunciar a sua Palavra.

2ª Leitura (1 Coríntios 12,31-13,13)
O trecho começa entoando um hino de louvor à caridade (vers.1-3). Este “amor” não deve ser confundido com a paixão egoísta que só procura as próprias vantagens e o próprio prazer.
O amor do qual Paulo nos fala é como o de Deus: não encontra o bem, cria-o. É nesta ótica que deve ser interpretada a frase que Jesus repete com frequência: “Os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos” (MT 20,16). Na nossa maneira de pensar, os primeiros são os bons e os últimos os maus. Deus inverte esta escala: prefere os pecadores, porque mais necessitados do seu amor.
Alguém pode ser dotado de excelentes qualidades, pode tomar retumbantes iniciativas, mas se não for movido pelo amor totalmente gratuito e desinteressado, se for dominado pela vaidade e pelo desejo de promover a si mesmo, não possui a “caridade”.
Na segunda parte da leitura Paulo fala da caridade como se fosse uma pessoa. Ele a apresenta com uma série de quinze expressões verbais (vers.4-7). Na terceira parte (vers.8-13) a caridade é comparada a outros carismas. Estes acabarão, não serão necessários, serão esquecidos como os brinquedos das crianças que, depois de certo tempo, não divertem mais e são abandonados; a caridade, ao invés, será eterna, permanecerá para sempre.