3º Domingo do Tempo Comum
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por Diác. Francisco Carlos
Paróquia Nossa Senhora da Candelária 

Lc 1,1-4;4,14-21

O Evangelho de hoje é constituído por dois textos diferentes. No primeiro temos uma introdução onde Lucas, apresenta o seu trabalho: trata-se de uma investigação cuidada dos “fatos que se realizaram entre nós”, a fim de que os crentes de língua grega (a quem o Evangelho de Lucas se dirige) verifiquem “a solidez da doutrina em que foram instruídos”. Estamos na década de 80 quando, desaparecidas já as “testemunhas oculares” de Cristo, o cristianismo começa a defrontar-se com uma série de heresias e de desvios doutrinais, que põem em causa a identidade cristã. Era, pois, necessário recordar aos crentes as suas raízes e a solidez dessa doutrina recebida de Jesus.
Na segunda parte, apresenta-se o início da pregação de Jesus, que Lucas coloca em Nazaré. O cenário de fundo é o do culto na sinagoga, no sábado. O serviço litúrgico celebrado na sinagoga consistia em orações e leituras da Lei e dos Profetas, com o respectivo comentário.
O centro do relato está na proclamação de um texto do profeta Isaias que descreve como é que o Messias concretizará a sua missão. Esse texto apresenta o profeta anônimo que, em Jerusalém, consola os exilados, como um “ungido de Deus”, que possui o Espírito de Deus. O que é mais significativo, no entanto, é a “atualização” que Jesus faz desta profecia: Ele apresenta-Se como o “profeta” que Deus ungiu com o seu Espírito, a fim de concretizar essa missão libertadora.
O projeto libertador de Deus em favor dos homens prisioneiros do egoísmo, da injustiça e do pecado começa, portanto, a cumprir-se na ação de Jesus (“cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir”). Na sequência, Lucas vai descrever a atividade de Jesus na Galileia como o anúncio (em palavras e em gestos) de uma “boa notícia” dirigida preferencialmente aos pobres e marginalizados, anunciando-lhes que chegou o fim de todas as escravidões e o tempo novo da vida e da liberdade para todos.
Lucas anuncia também, o caminho futuro da Igreja e as condições da sua fidelidade a Cristo. A comunidade crente toma consciência, através deste texto, de que a sua missão é a mesma de Cristo e consiste em levar a “boa notícia” da libertação aos mais pobres, fracos e marginalizados do mundo. Ungida pelo Espírito para levar adiante esta missão, a Igreja cumpre o seguimento de Jesus. Lucas não pode guardar para si o que as “testemunhas oculares e ministros da Palavra” lhe transmitiram. Então, decide escrever ao seu amigo Teófilo “para que ele tenha conhecimento seguro do que lhe foi ensinado».
Então, somos convidados a crer na Palavra, esta Palavra que muitos assinaram com o seu sangue. Não é o que, aliás, pede Jesus aos seus compatriotas de Nazaré: acreditar na Palavra? Na sua homilia, Jesus afirma que se realiza hoje a palavra de ontem do profeta Isaías. Ele anuncia a Boa Nova aos pobres e realiza a salvação. Então compreendemos porque é que os habitantes de Nazaré tinham os olhos fixos n’Ele, viam que Ele falava como homem que tem autoridade. Não somente as suas palavras eram “boa nova”, mas Ele próprio era a Boa Nova há tanto esperada. Desde Lucas, desde Teófilo, ninguém conseguiu calar quantos mensageiros da Boa Nova de Cristo é precisamente uma boa nova, é feita para ser anunciada!