Natal, tempo de retorno a Cristo
por Altair José Estrada Júnior
O Brasil ostenta o título de “maior país católico do mundo”. De fato, não obstante o recente crescimento dos evangélicos, o Brasil é o país em que um maior número de habitantes se diz seguidor da única e verdadeira religião, fundada por Jesus Cristo. Pelo menos aparentemente, há muitos sinais pelos quais podemos dizer que vivemos num país católico: inúmeras e artísticas igrejas, a cruz de Cristo está em toda parte, o nome de Deus encontra-se nas cédulas do nosso dinheiro, nossa Constituição é colocada sob Sua proteção, mais da metade dos nossos feriados nacionais são religiosos…
Em contrapartida, o país é um dos campeões também no contra-testemunho de seus filhos, na incoerência entre fé e vida. São milhões e milhões de “católicos” que não vivem a fé que professam, simplesmente ignorando o Evangelho e a moral cristã. A nação que mais católicos tem no mundo possui também altos índices de pobreza, miséria e fome, corrupção e criminalidade, pornografia e libertinagem nos meios de comunicação, que abertamente apregoam o fim do casamento e da família estável para incutir nas pessoas a ideia do prazer livre e descompromissado, da união casual entre homem e mulher, quando não de pessoas do mesmo sexo.
Então, afinal de contas, o que é ser católico? Carregar um santinho na carteira ou um terço no para-brisa do carro? Ir a Aparecida uma vez por ano ou beijar a imagem do Senhor Morto na sexta-feira santa? Ou mesmo, ir à missa todo domingo? Será que ser católico se resume só nisso?
Um sacerdote costumava dizer que tem gente que vai à igreja todo domingo, mas que, ao retornar pra casa e pendurar a “roupa da missa” no cabide, ali deposita também a sua fé, a sua religião, para só pegá-la de novo no próximo final de semana…
Ser católico não é ir à missa todo domingo, professar a fé em Cristo e na Igreja, e depois sair fazendo exatamente o contrário do que ensina o Evangelho e a Igreja, a quem Cristo confiou a continuidade da sua missão. E é o que muitas vezes acontece. Existe hoje um verdadeiro abismo entre o que se acredita e o que se vive, quer seja em âmbito pessoal, quer seja na família ou nos negócios. Até cremos em Deus, mas até o momento em que Ele não interfira em nossa vida!
Estamos prestes a celebrar mais uma vez o Natal do Senhor e é necessário fazer um exame de consciência, um sincero mea culpa, reconhecendo essa falta de coerência entre a fé que professamos e a nossa vida no dia-a-dia. As primeiras comunidades cristãs eram identificadas pelo amor que tinham uns pelos outros – Eles são cristãos, vede como se amam! (At 2, 42ss). Poderão dizer isso de nós, povo brasileiro, maior país católico do mundo, uma nação curvada sob tanto problema de ordem social e moral?
Nos tempos modernos, festejar o Natal ficou tão complicado: lojas, presentes, viagens, comida e bebida! Porém, o Natal é muito mais simples que tudo isso. Celebrar o Natal é tomar consciência de que um Deus se encarnou, assumindo a condição humana para nos elevar à dignidade de seus filhos e nos tornar participantes do seu Reino. Um Deus que vem ao mundo na forma de uma criança, que nasce na pobreza e na humildade, para nos mostrar que devemos ser humildes e puros de coração como são as crianças.
Em verdade vos digo: todo o que não receber o Reino de Deus com a mentalidade de uma criança, nele não entrará (Mc 10, 15). Sejamos, pois, mais coerentes com a nossa fé, procurando ser mais autênticos no seguimento de Jesus Cristo. Só assim entenderemos toda a dimensão da celebração do Natal a cada ano em nossa vida.