Creio na Vida Eterna XX
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Pe. Daniel Bevilacqua Santos Romano.
Vigário na Paróquia Nossa Senhora do
Monte Serrat – Salto/SP

Vamos nos encaminhando para o final desta belíssima catequese proferida pelo sacerdote italiano Mario Pezzi. Acredito que em duas semanas concluiremos. Hoje continuaremos com mais algumas redefinições propostas pelo padre Giacomo Panteghini.

A eternidade da
bem-aventurança
“Uma vez alcançada a plenitude e a realização, onde não existe crescimento nem diminuição da felicidade, parece faltar a dinamicidade da existência. A vida poderia parecer então um estado de quietude absoluta e de falta de vivacidade, de movimento e de funcionalidade. Alguns falam do tédio eterno. A vida, porém, pela sua definição e constituição, configura um estado de dinamismo total, embora sem provocar qualquer desenvolvimento ou progresso.
Fundada sobre a comunhão no amor e na verdade, implica por si só um contínuo movimento de doação e de recepção que nunca para e que provoca uma delícia perene de conhecimento e amor mútuo, tanto entre as criaturas como para com o Criador. Por outro lado, se considerarmos o mistério trinitário, pode-se ver nele um círculo vital eterno que leva o Pai a dar-Se ao Filho e o Filho a abandonar-Se ao Pai no dom subsistente do Espírito Santo, que nunca diminui, nem por cansaço, nem por desinteresse. Isto nos leva a entender que a vida eterna, na posse da plenitude do ser, não diminui a própria energia de movimento e de relação, pelo contrário, são-lhe acrescentadas constantemente situações novas e maravilhosas não no sentido de que se passa do não ter para o ter, de um estado imperfeito para outro perfeito. Isso seria negar a plenitude da perfeição bem-aventurada. A novidade constante brota da posse da visão da essência divina, uma realidade e uma verdade inexauríveis, uma fonte perene de amor, à qual o bem-aventurado pode ascender continuamente para ser saciado, sem todavia esgotar a totalidade da energia proveniente da nascente.
Na bem-aventurança eterna dá-se a plena união entre os bem-aventurados, ou seja, a comunhão total dos santos. Todos os que são de Cristo, partilhando a mesma familiaridade com o Pai celeste, vivem em plenitude o amor entre os irmãos, a ponto de formarem um só corpo, o único reino de Deus. Graças à união com Deus e à visão de Deus, tem lugar o sincero convívio entre irmãos. Em outras palavras, os bem-aventurados amam de modo semelhante ao modo como Deus ama os seus filhos, olhando e avaliando os outros em conformidade com a forma pela qual Deus os regenerou e escolheu. O homem participa assim do único amor misericordioso e da única compreensão na verdade.
A vida bem-aventurada se torna verdadeiramente a alegria suprema de estar juntos, de comunicar e de se apreciar até ao fundo na luz suprema da sabedoria divina e do seu amor puríssimo. Nisso consiste a felicidade perene dos bem-aventurados, visto que se cumpre a dimensão relacional da pessoa, que se realiza a si próprio na medida em que se relaciona com os outros sujeitos, de modo a viver de forma harmoniosa a comunhão interpessoal. A relação exige, pela sua natureza, a reciprocidade do fraterno entendimento, e só quando a correspondência se dá, podemos afirmar realmente que ocorreu a circularidade do amor. Nesse ponto, o sujeito e os sujeitos que se comunicam entre si encontram a felicidade plena.”

Continua…