O Descanso e as Férias na Vida Humana
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O dito popular afirma: “Quem não sabe descansar, não sabe trabalhar”. Em tempos nos quais grande parte das pessoas alega um sem-fim de argumentos para nunca colocar o pé no breque e dar uma respirada, faz-se necessário refletir sobre a necessidade humana do cada vez mais raro descanso.
São Tomás de Aquino, um dos maiores teólogos e filósofos da Idade Média, oferece uma visão profundamente equilibrada sobre o descanso e as férias, integrando razão e fé. Em sua obra, especialmente na Summa Theologica, ele aborda a necessidade do descanso como parte essencial da vida humana, enraizada na ordem natural e divina. Para Aquino, o descanso não é apenas uma pausa do trabalho, mas um meio de restaurar o corpo e a alma, permitindo ao ser humano alcançar sua finalidade última: a contemplação de Deus.
Aquino parte do princípio de que o ser humano é uma unidade de corpo e alma. O trabalho, embora dignificante, pode esgotar as energias físicas e mentais, comprometendo a capacidade de realizar atividades com excelência. Ele argumenta que o descanso é necessário para preservar a saúde do corpo e da mente, possibilitando que o indivíduo retorne às suas tarefas com vigor renovado. Na Summa Theologica (II-II, q. 168, a. 2), Aquino discute a virtude da eutrapelia, que se refere à moderação no lazer. Para ele, o lazer ordenado, que inclui o descanso e atividades recreativas, é moralmente bom quando praticado com prudência, evitando excessos como a ociosidade ou a dissipação.
O conceito de férias, embora não explicitamente mencionado por Aquino, pode ser inferido de sua visão sobre o otium (ócio ordenado). Diferentemente da preguiça, que é um vício, o otium é o tempo dedicado à restauração e à contemplação. Aquino valoriza momentos de pausa que permitem à pessoa refletir, orar e se aproximar de Deus. Ele cita o Salmo 46:10 (“Parai e vede que eu sou Deus”) para enfatizar a importância de cessar as atividades mundanas para focar no divino. Assim, as férias, quando bem orientadas, tornam-se oportunidades de crescimento espiritual e intelectual, além de recuperação física.
Outro aspecto relevante é a relação entre descanso e a lei divina. Aquino destaca que o próprio Deus instituiu o descanso no mandamento do sábado (Êxodo 20:8-11), mostrando que pausas regulares são parte da ordem da criação. O descanso dominical, por exemplo, é um momento de culto e renovação, que prefigura o descanso eterno em Deus. Para Aquino, as férias, como extensão desse princípio, devem ser vividas com um propósito elevado, evitando a mera busca por prazeres sensoriais desordenados.
Por fim, Aquino adverte contra os extremos: tanto o excesso de trabalho, que desumaniza, quanto o excesso de lazer, que corrompe. As férias devem ser um equilíbrio virtuoso, guiado pela prudência, que harmoniza as necessidades do corpo com as aspirações da alma. Assim, São Tomás nos ensina que o descanso e as férias não são apenas direitos, mas deveres, pois nos preparam para viver plenamente nossa vocação humana e divina.
Amém.13