Creio na Vida Eterna XVIII
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O Paraíso: Banquete e Bodas

“Na sua pregação, Jesus fala muitas vezes do Reino de Deus como sendo um Banquete e umas Bodas. A este propósito impressionou-me a interpretação dada pelo teólogo Joseph Ratzinger, que exporei brevemente a seguir. Ratzinger interroga-se sobre isto: Qual é o conteúdo íntimo do banquete, das bodas, que torna estas coisas aptas para serem expressão de salvação e de vida para todos os homens?
‘Podemos referir aqui que, por trás dos dois processos se encontram, precisamente, os dois instintos fundamentais do homem: o de alimentar-se e o instinto sexual.
Comer no banquete solene, a partir de um processo puramente biológico, transforma-se numa realização vital da comunhão dos homens entre si. O homem experimenta a delícia das coisas e só a sente plenamente na comunhão com aqueles que com ele desfrutam. Esta liberalidade da existência, que é rica e que se dá, faz parte da experiência do banquete.
Significado análogo podemos apreender nas bodas. A elevação do evento biológico da simpatia sexual a um ato espiritual do eros, da auto-superação amorosa do homem, é nela cristalizado, reassumido e convalidado. E o homem experimenta de novo, também aqui, o generoso favor da existência, que lhe proporciona o alegre milagre do amor; ele não se pode limitar a conquistá-lo, pelo contrário, o amor vai ao seu encontro, apanha-o literalmente de surpresa, prevalece sobre ele e muda a sua vida; dá-lhe uma nova capacidade interior, que nos momentos mais elevados o faz pressentir, como que em êxtase, uma outra vida, mais luminosa e plena do que a vida comum de todos os dias.
Nas duas imagens, dá-se uma compenetração entre instinto e espírito, que inclui, na esfera do espírito, as forças fundamentais e impetuosas da materialidade, criando assim a unidade da realidade, em que os seus dois polos – matéria e espírito – se fecundam mutuamente e, secundando-se, se afirmam: a matéria recebe luz, claridade do esplendor do espírito, que penetra e ilumina o que ela tem de pesado; o espírito recebe intensidade, calor materno e força graças ao elemento corpóreo-terreno que se desposa com ele.
A isso vem somar-se a experiência da generosa doação da existência, que vai ao encontro do homem e que se debruça sobre ele, bem como a experiência da alegria festiva, que ultrapassa todas as fronteiras e que encerra todas as criaturas numa comunhão fraterna. E no ponto mais íntimo, quase como que no coração de tudo isso, a misteriosa experiência do amor.’”

Continua…

 

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