Pe. Daniel Bevilacqua  – Creio na Vida Eterna XV – O Céu I
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Pe. Daniel Bevilacqua Santos Romano.
Vigário na Paróquia Nossa Senhora do
Monte Serrat – Salto/SP

“Passaremos agora ao Céu. Como se apresentará a Jerusalém celeste? Um aspecto muito importante, recuperado pelo Concílio Vaticano II, é a passagem de uma visão comunitária, eclesial: O Corpo de Cristo Ressuscitado. Teremos a alegria, como pessoas, como indivíduos, e também como comunidade. A felicidade consiste em sentirmo-nos amados por Deus e em amarmo-nos aos outros, numa doação mútua.
A bem-aventurança total consistirá na plena comunhão com Deus, com os irmãos, consigo mesmo e com o cosmo. Como descreve S. João no Livro do Apocalipse, a Jerusalém celeste fundada na história da humanidade, a história não desaparecerá, estará sempre presente como os estigmas no corpo glorioso de Jesus:
‘A Jerusalém celeste está cercada por uma grande e alta muralha, com doze portas. Sobre as portas há doze anjos e nomes inscritos, os nomes das doze tribos de Israel: três portas para o lado do oriente; três portas para o norte; três portas para o sul, e três portas para o ocidente. A muralha da cidade tem doze alicerces, sobre os quais estão os nomes dos doze Apóstolos do Cordeiro. (Ap 21,12ss)’
Assim fala Ratzinger no seu livro:
‘Com o termo figurado céu, conotado com o símbolo de tudo o que significa no alto, ou seja, com o símbolo de altura, a tradição cristã define o cumprimento, o aperfeiçoamento definitivo da existência humana mediante a plenitude daquele Amor para o qual se move a fé.
… O Céu não é um lugar sem história aonde se chega; a existência do céu fundamenta-se no fato de Jesus Cristo, como Deus, também ser homem, e ter dado ao ser humano um lugar no próprio Ser de Deus.
O homem está no céu quando e na medida em que está com Cristo.
O céu, entendido como um tornar-se um com Cristo, tem, portanto, o caráter de adoração; nele se realiza o conteúdo profético de todo o culto: Cristo é o Templo escatológico, o céu é a nova Jerusalém, o lugar de culto prestado a Deus…
A afirmação cristológica, porém, inclui também um momento eclesiológico: se o céu está fundado sobre a inserção do homem em Cristo, depreende-se que ele também implica a comunhão com todos aqueles que formam juntos o único Corpo de Cristo. Com efeito, o céu não conhece isolamento algum; ele é a comunidade aberta dos Santos e, portanto, também a plenitude de toda a convivência humana como consequência da total abertura frente ao rosto de Deus.
É a abertura sem falhas entre os vários membros de todo o Corpo de Cristo. Disso também deriva, portanto, um componente antropológico: a fusão do Eu com o Corpo de Cristo, não significa uma dissolução do Eu, mas a sua purificação.’
Aqui distinguimo-nos das religiões orientais em que o nirvana consiste em que o teu eu, depois de várias purificações ou reencarnações, se perde em Deus. O nosso Deus não é isso. Cada um mantém a sua personalidade.
‘O céu é individual para cada um. Cada um vê Deus à sua maneira, cada um recebe o amor do Todo Poderoso na sua inconfundível unicidade: Ao vencer darei o maná escondido e uma pedrinha branca, na qual está escrito um nome novo, que ninguém conhece a não ser quem a recebe (cf Ap 2,17).’
Por isso, cada um terá uma medida de glória conforme tiver amadurecido essa glória na terra. A comunhão com Deus em Cristo pelo Espírito Santo não aniquila o nosso eu, a nossa personalidade; pelo contrário, realiza todas as potencialidades da nossa pessoa até agora desconhecidas para nós próprios.”

Continua…

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