Creio na Vida Eterna XII
Compartilhe

O juízo universal

por Pe. Daniel Bevilacqua Santos Romano.
Vigário na Paróquia Nossa Senhora do
Monte Serrat – Salto/SP

“Na sua Encíclica Spe Salvi, o Papa Bento XVI sublinha, com palavras duras e firmes, que Deus fará justiça a todos os sofrimentos, a todas as opressões, a todas as violências, a todas as guerras, porque nada ficará esquecido diante de Deus, que recolhe as lagrimas de todos os pobres e oprimidos. Ele reconfortará os pobres, os humilhados, exaltá-los-á e humilhará aqueles que se julgaram poderosos, que foram prepotentes, que oprimiram e exploraram os outros.
‘Visto que não há um Deus que cria justiça, parece que o próprio homem é agora chamado a estabelecer a justiça. Um mundo que deve criar a justiça por sua conta, é um mundo sem esperança. Nada e ninguém respondem pelo sofrimento dos séculos. Nada e ninguém garantem que o cinismo do poder – independentemente do revestimento ideológico sedutor com que se apresente – não continue a imperar no mundo…
…Deus revela o seu rosto precisamente na figura de Cristo, Servo sofredor, que partilha a condição do homem abandonado por Deus, tomando-a sobre Si. Este sofredor inocente tornou-se esperança-certeza: Deus existe e Deus sabe criar a justiça de um modo que nós não somos capazes de conceber, mas que pela fé, podemos intuir. Sim, existe a ressurreição da carne. Existe uma justiça.
Existe a revogação do sofrimento passado, a reparação que restabelece o direito.
Por isso, a fé no Juízo final é, primariamente e sobretudo, esperança…
Estou convencido de que a questão da justiça constitui o argumento essencial – e também o argumento mais forte – a favor da fé na vida eterna…
O protesto contra Deus em nome da justiça não basta. Um mundo sem Deus é um mundo sem esperança. Só Deus pode criar justiça. E a fé no dá a certeza: Ele faz isso. A imagem do Juízo final não é primeiramente uma imagem aterradora, mas de esperança; a nosso ver, talvez até a imagem decisiva da esperança.
Mas não é porventura também uma imagem assustadora? Eu diria: é uma imagem que apela à responsabilidade. Portanto, uma imagem daquele susto ao qual se refere Santo Hilário, dizendo que todo o nosso medo tem lugar no amor. Deus é justiça e cria justiça. Tal é a nossa consolação e a nossa esperança.
A graça não exclui a justiça. Não muda a injustiça em direito. Não é uma esponja que apaga tudo, de modo que tudo quanto se fez na terra acabe por ter o mesmo valor…’
Tudo isso está na Spe Salvi. No seu livro sobre a Escatologia, Ratzinger afirma:
‘Assim como a volta de Cristo, também o juízo se subtrai à nossa imaginação.
Cristo não condena ninguém; Ele é pura salvação e, quem adere a Ele, encontra-se na zona da salvação e da Graça. A perdição não é decidida por Ele, mas existe onde quer que o homem se tenha mantido longe d’Ele; ela nasce do ficar fechados em si mesmos.
O homem entra com a sua morte na pura realidade e verdade, e ocupa agora o lugar que lhe compete segundo a verdade. As máscaras da vida, o refugiar-se atrás de posições e fingimentos, pertencem ao passado. O homem é aquilo que é na verdade. Neste cair das máscaras, que se verifica na morte, consiste o julgamento. O julgamento é, simplesmente, a própria verdade, a sua revelação. Todavia, esta verdade não é uma realidade neutra. Deus é a Verdade, a Verdade é Deus, é pessoa. Uma verdade que julga, que é definitiva, só pode existir se tiver um carácter divino; Deus é juiz, na medida em que Ele próprio é a Verdade.’
Eu ouvi um episódio da vida do Santo cura d’Ars, que não pude comprovar. Contam que uma mulher desesperada foi encontrar com o Cura d’Ars, lavada em lágrimas, gritando que seu filho se atirara de uma ponte e se matara no rio subjacente: estava desesperada, pensando que ele estava condenado ao inferno por toda a eternidade. O Cura d’Ars ter-lhe-ia dito: ‘E tu que sabes o que sucedeu no coração do teu filho enquanto caía da ponte ao rio? Pode ter tido um instante de arrependimento. Reza antes por ele’.
O juízo final faz justiça sobre a história. Nós seremos julgados como pessoas, como história, como nações. Deus fará justiça por tudo. Tudo o que não conseguimos saber agora, iremos saber como realmente aconteceu.”
Continua…

Deixe comentário