Creio na Vida Eterna V
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por Pe. Daniel Bevilacqua Santos Romano
Vigário na Paróquia Nossa Senhora do Monte Serrat – Salto/SP

O Purgatório

“Vamos falar agora do Purgatório, que, sendo um estado de purificação da alma com vista à plena comunhão com Deus e com todos os Santos, tem um caráter temporário, por assim dizer, e não diz respeito ao estado final, quando da ressurreição dos mortos.
No seu livro sobre a Escatologia, referindo-se ao Purgatório, Joseph Ratzinger interroga-se: ‘Em que consiste o núcleo central da doutrina do purgatório? Quais são as suas motivações? Na nossa conversa com os Padres encontramos 1Cor 3,10-15, onde se diz que sobre o alicerce colocado – Jesus Cristo – uns constroem com ouro, com prata ou com pedras preciosas; outros com madeira, feno ou palha, mas que a obra de cada um será bem visível: dar-se-á a conhecer naquele dia que se manifestará com o fogo, e o fogo provará a qualidade da obra de cada um. Se a obra que cada um constrói sobre o fundamento resistir, esse receberá uma recompensa; mas se a obra for queimada, será punido: contudo, salvar-se-á, mas como quem passa pelo fogo.’
O que é este fogo? É o Espirito Santo, é o próprio Senhor que queima dentro de nós. Diz o Pe. Livio: ‘Entrando mais a fundo no âmago desta reflexão teológica, consideremos aquilo que nos disse o Concílio: as almas do purgatório fazem parte do Corpo Místico de Cristo. Nas almas do purgatório também trabalha e atua o espírito de Cristo, que é o Espirito Santo, o espirito de amor; e o fogo do purgatório é, precisamente, o fogo de amor do Espírito Santo, que penetra até a profundeza destas almas, até às suas raízes, as purifica do seu egoísmo, as habilita para amar, conduzindo-as à perfeição do amor. Assim, o purgatório é grande escola do amor perfeito, cujo mestre é o Espirito Santo, que atua diretamente nas almas.
Este ensinamento tem sua origem, sobretudo, numa grande mística, Santa Catarina de Gênova. Contudo, passou a ser também o ensinamento de muitos teólogos atuais, que concebem o purgatório como o lugar onde o fogo do amor de Deus purifica as almas do egoísmo e as capacita para amar.
O purgatório é assim, uma realidade especificamente cristã. O próprio Senhor é o fogo que julga, que transforma o homem e o torna conforme ao seu corpo glorificado.
O purgatório, portanto, não é uma espécie de campo de concentração do além – não é um inferno em pequena escala, como diz Tertuliano – onde o homem tem de expiar as penas que se lhe impõem de forma positiva. É, antes, aquele processo necessário da transformação espiritual do homem, que o coloca em condições de estar junto de Cristo, junto de Deus, de se unir a toda a comunhão dos santos.
O purgatório é um lugar de sofrimento, porque ainda não se pode ver Deus face a face. Mas também é um lugar de alegria, sobretudo porque já há a certeza da bem-aventurança (ao passo que no inferno já há a certeza da condenação); porque, em certo sentido, já há a possibilidade de comunicar-se com Deus mediante a oração; e por último, porque nele já se pode gozar do grande mistério da comunhão dos santos, que dá às almas do purgatório a possibilidade de orar pelos vivos, e a estes a possibilidade de orar por aqueles.
A este respeito, devemos sublinhar, como já vimos nos textos anteriores, que as almas do purgatório podem orar por nós e, certamente, oram por nós, para que possamos alcançar o fim da vida, que é a bem-aventurança eterna, para a qual elas se encaminham. Mas também nós podemos orar por elas e ajudá-las com a oração, os sacrifícios, a penitência, os sufrágios e as indulgências.”

Continua…

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