Creio na Vida Eterna II
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“Na tradição da Igreja, o momento da morte sempre foi considerado como o dies natalis, o dia em que o cristão nasce para a verdadeira vida. Na passagem, certamente dramática e agônica, para este segundo nascimento, há que se destacar como fundamentais as ajudas que a Igreja pode conceder a quem passa por esse transe. Os sacramentos constituem um meio privilegiado de receber as graças oportunas neste momento fundamental para a vida de todo o homem, porque assim, como os sacramentos do Batismo, da Confirmação e da Eucaristia constituem uma unidade chamada sacramentos da iniciação cristã, pode-se dizer que a Penitência, a Santa Unção e a Eucaristia, enquanto Viático, constituem, quando a vida cristã chega ao fim, os sacramentos que preparam para a entrada na pátria, ou os sacramentos que encerram a peregrinação.
Diz o Padre Livio Fanzaga: ‘O convite que Paulo nos dirige a que vivamos neste mundo, mas tendo continuamente a nossa cidade nos céus sustentou ao longo dos séculos a espiritualidade monacal. Quem a conhece bem sabe que os monges estavam habituados a fazer o exercício de Jerusalém: este consistia, não tanto numa contínua reflexão sobre a boa morte, mas numa meditação quotidiana sobre a esperança do céu, sobre a Jerusalém celeste, que é a nossa verdadeira pátria.
Em vez de meditarem sobre a morte, os monges medievais meditavam sobre o que há depois dela. ‘Quem me dará asas como as da pomba, para eu voar e encontrar repouso?’, suspira o salmo 54. Deveríamos recuperar este dinamismo espiritual e dar mais espaço à tensão escatológica da vida cristã, seguindo o convite de Paulo: a nossa cidade está nos céus.’
Para quem deseja aprofundar o tema do Exercício de Jerusalém, encontra-se largamente desenvolvido no livro de Dom Jean Leclerq: L’amour des lettres et le désir de Dieu. Apenas duas breves citações:
‘Em vez de insistir sobre o aspecto negativo da ascese, este modo de se exprimir põe em destaque o aspecto positivo: o impulso para Deus, o tender para o fim do homem, que é possuir Deus de forma plena e eterna.’
Estou lendo a vida de Santa Hildegarda, que proibia as pessoas de se vestirem de luto, que queria que as monjas se vestissem de branco, que proibia os jejuns e as penitências. Dizia ela que devíamos desfrutar da vida, bendizendo o Senhor. O Senhor deseja que sejamos felizes.
‘A contemplação, no sentido pleno do termo, constituindo a posse na Luz, só será realizada no Céu: é impossível na terra. Mas pode obter-se de Deus, como um dom, uma antecipação real, que é o próprio desejo. Desejar o céu é querer Deus e amá-Lo com um amor que os monges por vezes qualificam como impaciente. Quanto mais aumenta o desejo, mais a alma repousa em Deus; a posse de Deus aumenta na proporção do desejo.’
O desejo de Deus, além dos numerosos textos da Sagrada Escritura que o abordam, foi tratado longamente por muitos Padres e Santos. Contam-se entre eles Santo Agostinho e São Bernardo. Santo Agostinho chega a dizer que Deus tarda em realizar o nosso desejo de chegar até Ele para que esse nosso desejo aumente cada vez mais, para que sejamos mais recompensados com a glória.”

Continua…

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