Qual o lugar da sabedoria no mundo atual?
Compartilhe

Ouvindo o ensinamento dos sábios

por Olga Sodré

Apesar do símbolo dos sábios ter se mantido vivo na memória coletiva, vivemos numa época de reverência ao novo, ao efêmero e às aparências. Nela, a sabedoria parece ter perdido seu valor. No entanto, as histórias dos sábios são depositárias do manancial das experiências e ensinamentos de várias gerações sobre o desenvolvimento humano. Essas histórias contribuem para forjar aspirações, ideais e concepções éticas que alicerçam nossa convivência humana. A tradição dos mestres está presente em várias culturas e religiões, nas quais eles são associados a um estado de sabedoria, paz e harmonia. Eles são os guardiões dos ensinamentos para se alcançar este estado. Aparecem frequentemente na forma de um mestre em diálogo com seus discípulos, desempenhando um papel central nas conquistas espirituais dos heróis.
Antes mesmo de entrar em contato com monges, quando meu processo de psicoterapia atingiu as camadas mais profundas da consciência – após atravessar a região das sombras-, meus sonhos foram povoados por figuras de sábios. Emergindo do fundo do inconsciente com novas ou antigas roupagens, os personagens de sábios e mestres se mantiveram vivos nas histórias para crianças e jovens, sendo retratados igualmente em filmes e livros.
Quando fui à Índia, senti-me profundamente atraída pela opção dos monges hindus de tudo abandonar para se entregarem integralmente à busca do divino. Ao descobrir a tradição dos monges cristãos, fiquei particularmente encantada pelos monges do deserto e pela elevada experiência mística dos grandes sábios da Capadócia: Gregório Nazianzo, Basílio Magno e Gregório de Nissa. Numa peregrinação com Dom Estêvão Bettencourt OSB, seguindo os passos do Apóstolo São Paulo, visitei essa região (que hoje faz parte da Turquia), revendo os ensinamentos destes monges.
Assim sendo, os símbolos dos sábios e monges não sumiram. Quando se acreditava, no Ocidente, que a religião desapareceria com o progresso e que a experiência dos monges estava ultrapassada, não tendo mais sentido para a modernidade ocidental, eis que a necessidade espiritual e religiosa retornou com mais vigor.Despontou novamente o interesse pela vida dos monges, na chamada pós-modernidade globalizada, reativando e renovando o manancial da longa e variada tradição monástica das várias religiões.
Esse renascimento religioso, no Ocidente, causou surpresa a muitas pessoas afastadas da religião, na medida em que ele brotou das cinzas da destruição e decadência de várias instituições monásticas e religiosas cristãs. Daí a importância de se compreender e situar as condições e formas atuais da mensagem de renovação e paz trazidas por esse retorno religioso, em seu novo contexto histórico.
As comunidades monásticas abrem o horizonte para um mundo alternativo possível. Por sua renúncia dos bens materiais e escolha da primazia da vida espiritual e do encontro íntimo com Deus, essas comunidades manifestam de forma radical uma recusa do modo de vida mundano e uma possibilidade concreta de convivência pacífica e amorosa representada pelo Reino de Deus. Elas encarnam, portanto, a utopia do mundo futuro e o tornam já presente entre nós pelo seu modo de vida baseado no silêncio, na partilha, igualdade e fraternidade às quais aspiram ainda muitos jovens.

Deixe comentário