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Coluna organizada por Nilo Pereira, segundo a exegese do Pe. Fernando Armellini, scj

Leituras iniciais da Solenidade da Santíssima Trindade

1ª Leitura (Dt 4,32-34.39-40)
Fala-se freqüentemente em nossos dias, e por alguns de forma triunfalista, de uma volta da sacralidade, de um retorno do espiritual, de uma volta de Deus que por muita gente fora apontado desaparecido ou morto.
Todos nós temos a convicção de ser adoradores daquele Deus do qual nos falou Jesus, mas, se alguém nos pedisse para falar-lhe do nosso Deus, de expor-lhe o que ele faz, estaríamos preparados para responder?
As leituras de hoje foram escolhidas para ajudar-nos a purificar o nosso coração das falsas imagens de Deus que, conscientemente ou não, assimilamos. A primeira leitura é extraída do Livro do Deuteronômio. Trata-se de uma passagem escrita para consolidar e conduzir à reflexão os israelitas, quando escravos na Babilônia e para nutri-los na esperança de sua libertação.
O autor os convida a repensar a história: pede-lhes para comparar as gestas de Javé com aquilo que os outros povos narram dos próprios deuses. A conclusão – afirma ele – só pode ser esta: no universo inteiro ninguém jamais ouviu dizer que um deus tenha resolvido intervir com tanto poder para libertar o seu povo como fez Javé por Israel. Nenhum deus falou aos homens como ele fez com Abraão, com os patriarcas, com Moisés na sarça ardente.
A imagem de Deus que se extrai da Bíblia não é a de um deus distante como eram e como são ainda os deuses dos pagãos, mas sim um Deus que acompanha de perto os acontecimentos da vida do seu povo, que se preocupa com seus problemas e intervém a seu favor.
A leitura se encerra com a exortação, válida também para nós nos dias de hoje: “Observa, portanto, suas leis e suas prescrições que hoje te prescrevo, para que sejas feliz, tu e teus filhos depois de ti” (vers.40).

2ª Leitura (Rm 8,14-17)
Paulo nos revela, com palavras enternecedoras, qual é a nossa realidade depois do batismo. Já não somos simples criaturas, não somos escravos a serviço de um senhor na esperança de receber uma recompensa ou no temor de um castigo. Somos filhos que recebemos a Sua própria vida. O Espírito que nos foi comunicado nos conduz a elevar para Deus um grito, cheios de confiança e de alegria: “Pai querido!”
É essa a finalidade pela qual nos foi revelado que Deus não é solitário, mas família. Ele não nos manifestou o segredo de sua vida para colocar-nos diante de um enigma, que é este: Como pode existir um Deus em três pessoas? Falou-nos dele para dizer que “nós somos predestinados a ser seus filhos, irmãos de Cristo, transformados pela energia do seu Espírito”.
A religião do medo dos castigos de Deus, a religião dos méritos, a religião de quem anuncia um Deus distante e de quem não o sente dentro de si, é incompatível com a profissão de fé em Deus Pai, Filho e Espírito Santo.

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