O perigo da direção amadora no Brasil
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por Pedro Dalan

Sem captar dinheiro suficiente para S/A, Botafogo apela para a recuperação judicial. Clube precisa captar R$ 250 milhões com investidores para prosseguir com o plano. Não chegou a tanto. Se errar na recuperação, poderá acabar falido e rebaixado para última divisão.
Há duas semanas, o Botafogo anunciou que não tinha conseguido dinheiro para prosseguir com a S/A (transformar o clube em empresa). Agora o presidente Nelson Mufarrej fala em recuperação judicial como alternativa. O mecanismo sempre foi o “plano B”, mas só agora está sendo assumido como tal.
E o torcedor tem motivos de sobra para se preocupar. Em primeiro lugar, porque a captação de dinheiro por meio da S/A era uma solução que hoje parece perdida. Depois, porque a recuperação judicial vem sendo maltratada pela superficialidade de quem ainda não entendeu seus riscos. O projeto da sociedade anônima tem três etapas fundamentais para ser executado; aprovação política no quadro social, captação de verba com investidores e acordos com todos os credores privados
A torcida comemorou quando a Assembleia Geral alvinegra aprovou, em votação, a continuidade do projeto. Alguns entenderam que o processo estava encerrado. Na verdade, esta era a parte mais fácil.
Cabe lembrar o conceito do projeto. O Botafogo de Futebol e Regatas, a associação civil sem fins lucrativos, passaria todo o futebol para ser administrado pelo Botafogo S/A, ou outro nome adotado. A associação ficaria com clube social e esportes amadores.
O problema está na dívida de R$ 1 bilhão. A transferência do futebol profissional para a S/A, seria facilmente caracterizada como fraude, não sendo esse endividamento resolvido em primeiro lugar. A princípio, os responsáveis pelo projeto calculavam que a sociedade anônima precisaria de cerca de R$ 320 milhões para ser tirada do papel. Parte disso seria destinada para a construção de um centro de treinamento e para o reforço do futebol, outra parte para as dívidas. O Botafogo precisaria convencer pessoas a quem deve grana, a ceder um perdão em média de 80% do valor total devido. Todas, sem exceção.
A primeira má notícia é que a meta inicial de R$ 320 milhões estava distante de ser atingida. O clube então refez os cálculos e concluiu que R$ 250 milhões seriam suficientes. Após meses de intensas negociações com botafoguenses de toda sorte, além de fundos de investimento e outras figuras do mercado financeiro, o Botafogo conseguiu o interesse de pouco mais do que 30 investidores. Grosseiramente, a soma desses aportes chegaria a R$ 210 milhões. Ainda abaixo do que era necessário.
O balde d’água fria foi jogado sobre as cabeças alvinegras na última hora. A pandemia do coronavírus tornou o investimento no Botafogo S/A arriscado. Na nota oficial, o clube ainda citou incertezas nos Estados Unidos e na Europa e temores sobre a economia brasileira. Resultado; nem mesmo os R$ 210 milhões foram alcançados.
Em suma, os dirigentes do Botafogo agora assumem o que esteve no script desde o começo. A recuperação judicial como um “plano B” para salvar o projeto da S/A, caso o roteiro descrito acima não fosse cumprido à risca.
Esta é uma ferramenta que o poder público dispõe para recuperar empresas quase falidas. O devedor assume que não conseguirá arcar com suas dívidas e reúne todos os credores para fazer uma proposta. Geralmente, ela inclui o perdão de parte considerável e a renegociação do restante em um prazo determinado. A Justiça monitora o processo.
A recuperação judicial vem repleta de riscos, no entanto. Hoje, associações civis não podem entrar em recuperação judicial. Mesmo se virasse empresa, de acordo com as regras atuais, o Botafogo precisaria aguardar dois anos para ter direito ao mecanismo.
O Botafogo estuda duas opções para ter direito à recuperação judicial: o projeto de lei do clube-empresa que tramita no Congresso e a analogia com o processo de uma universidade. Ambas são incertas.
A recuperação judicial exige pagamento de dívidas trabalhistas em prazo inferior a um ano. Sem encontrar um meio para distorcer as regras a seu favor, a condição torna o sucesso improvável. E caso a recuperação judicial do Botafogo termine com a reprovação da proposta por credores, o clube terá sua falência decretada. Todos os bens serão vendidos, e o futebol será rebaixado para a última divisão.
Dois pesos e duas
medidas
No início da manhã de segunda 26, o São Bento teve o pedido de adiamento da partida contra o Criciúma, negado pela CBF. A partida aconteceu na mesma segunda, às 20 horas, no estádio Walter Ribeiro, em Sorocaba. O jogo fechou a 12ª rodada da Série C. Segundo a entidade máxima do futebol brasileiro, não há motivo para adiamento, já que jogadores machucados ou suspensos não entram na conta sugerida no protocolo, que diz que um clube precisa ter ao menos 13 jogadores aptos para a partida.
Segundo a CBF, o São Bento tem no total 17 jogadores que podem entrar em campo, impressionante, a entidade quer saber mais que o clube, desprezando que quatro estão no departamento médico e um suspenso. Sem opções, o técnico Edson Vieira terá de improvisar um goleiro na linha e terá apenas um reserva no banco, que também é goleiro.
O São Bento entrou em campo, e a duras penas, segurou o empate, na seguinte situação: 21 desfalques, sendo 15 jogadores com Covid-19, dois jogadores com sintomas, três jogadores no DM e um jogador suspenso. O Bentão teve apenas um reserva no banco, o goleiro Lucas Macanhan. Allan Vieira, que estava no DM, foi para o sacrifício.
Na negativa, a CBF alegou que o São Bento tem 38 jogadores inscritos na competição e que teria ao menos 13 jogadores aptos para a partida, o que validaria a sua realização. Além disso, a entidade considerou também que o clube pode utilizar os jogadores das categorias de base.
Segundo o clube, são 38 jogadores inscritos no campeonato, sendo que seis deles já deixaram o clube. Entre os 32 aptos, 15 estão com Covid-19, quatro lesionados e um suspenso, restando apenas 12 jogadores, sendo que três são goleiros.

Então a pergunta que fica é: e se o que está acontecendo na Série C, fosse na Série “A”, com clubes de São Paulo ou do Rio de Janeiro, a resposta seria a mesma?
Duvideodó!!!

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