Mensageiro de Cristo no mundo oriental
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Embora com a velocidade própria dos nossos tempos, Paulo VI repetiu o feito missionário das viagens do apóstolo São Paulo, de 26 de novembro a 4 de dezembro último [1970]. Foram nove dias de um programa exaustivo, percorrendo 47 mil quilômetros de voo, visitando oito países da Ásia e Extremo Oriente. O trabalho mais penoso foi nas Filipinas, onde, além dos costumados discursos e missas, ordenou 180 sacerdotes de várias regiões. Apesar de ter sido tão manifesta a intenção do Sumo Pontífice nessa longa peregrinação; apesar de sua repetida insistência em declarar que não o moviam interesses políticos mas sim espirituais e humanos, houve, não só de fora da Igreja – de protestantes e comunistas – mas até de católicos e eclesiásticos, quem fizesse restrições ou condenações frontais a certos pontos do contato e da mensagem papal, como imprudentes, perigosos e mesmo heterodoxos.
Logo na primeira parada, que foi em Teerã, assim se expressou aos que vieram saudá-lo: “A finalidade desta viagem, que nos leva tão longe, é de ordem espiritual. Faz parte da missão de solicitude por todas as Igrejas, que, na qualidade de sucessor do Chefe dos Apóstolos recebemos de Jesus Cristo… A todos que se honram do nome de cristãos, exprimimos nossa amizade fraterna, regozijando-nos pela oportunidade que nos é dada de assegurar nosso respeito pela riqueza de suas tradições espirituais; o nosso grande desejo de unidade na submissão aos caminhos da Providência, e a oração que elevamos a Deus para que em tudo triunfe sempre o espírito de caridade. Temos esperança de que Nossa viagem produza frutos de bom entendimento, cada vez mais profundo entre as comunidades de todas as origens e de todas as confissões religiosas desta parte do mundo: que sirva para estimular uma ação solidária em favor do progresso, da justiça e da paz (…)
Depois destas afirmações e das atitudes demonstradas pelo Sumo Pontífice em todo seu itinerário, causa-nos estranheza e repulsa a leviandade com que “O Estado de S. Paulo” em editorial que apregoa a linha oficial da Redação (dia 4.12) critica abertamente a pregação e atividade de Paulo VI, que teria feito uma síntese mutilada do Evangelho, insistindo no plano horizontal das questões sociológicas, em vez de ressaltar os valores sobrenaturais da Fé. Parece que o prestigioso jornal toma as dores de todo o capitalismo, cujos abusos o Santo Padre, às vezes, reprova, e, para cúmulo de recurso impróprio, argumenta com longa citação do interesseiro e nada religioso “The Economist” (28.11) que mal profetiza: “Tanto na rádio Hong-Kong como na rádio Manilha (ele) vai fazer aberturas desconcertantes em relação à China. O Papa, cuja formação é mais de diplomata que de teólogo (sic?) atribui a maior importância ao papel internacional do Vaticano. Dir-se-ia que o Papado, depois de perdido o poder temporal, faz agora um esforço de recuperação tentando desempenhar um papel no cenário internacional (sic).”
(…) Notável é a sobranceria com que o Papa nem liga para afrontas como essa!
(…) Ao Soberano Pontífice nossas homenagens de agradecimento, desagravo e felicitação.

Republicação de artigo do periódico A Cruz (RJ), de 13.12.1970 por iniciativa da Biblioteca Histórica (Igreja Bom Jesus).

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