Contrarreforma brasileira
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por Altair José Estrada Junior

Ninguém pode negar que o pensamento socialista hoje domina as mais diferentes áreas da sociedade: os meios culturais e artísticos, onde qualquer manifestação é entendida como cultural, mesmo que não se subordine, como deveria, à verdade e à promoção superior do homem; os meios educacionais e de ensino, onde o aluno é formado a entender-se como vítima, seja do paternalismo e da família, seja de um “sistema opressor” a tolher-lhe a liberdade e a criatividade; os meios políticos e judiciais, muitas vezes aparelhados à defesa do crime e dos criminosos – as “vítimas da sociedade”. A história e as ciências humanas em geral são estudadas e ensinadas sob o enfoque socialista, não compreendendo outras versões sob pena até da ridicularização do opositor nos meios acadêmicos. Leis e praticamente todo o ordenamento jurídico é hoje protetivo e até suscitador de um ambiente totalmente alheio a um direito natural, ao qual todo ser humano e toda a criação devem submeter-se em suas ações. Nem mesmo a Igreja escapa a essa tendência, à medida que, em muitos lugares, deixou de se preocupar com a salvação das almas para focar-se numa felicidade terrena, às vezes materialista e vazia sob o ponto de vista transcendental.
Embora se trate de uma realidade mundial, há sociedades que são mais receptivas a essa tendência de socialização, como é o caso do Brasil, onde encontra uma de suas maiores parceiras e disseminadoras na imprensa, nos grandes meios de comunicação de massa.
Na verdade, essa realidade que hoje vivemos nada mais é que a revolução cultural defendida por vários teóricos marxistas, como o italiano Antonio Gramsci, que, diante do fracasso da revolução comunista armada, assim como de vários regimes que resultaram em milhões e milhões de mortes e muita fome, e não obstante a isso, insiste em propor a hegemonia cultural, quando um grupo ou um conjunto de grupos consegue exercer influência o suficiente sobre as pessoas a ponto de direcioná-las, do ponto de vista moral e intelectual. Comprometido com um projeto político que deveria culminar com uma revolução proletária, Gramsci acreditava na tomada do poder por meio de um profundo processo de mudança de mentalidade, ou seja, um processo cultural, onde os agentes principais seriam os intelectuais e, o instrumento, a escola.
É desse processo cultural que foi vítima o Brasil, onde muitos até se imaginam conservadores, mas ingenuamente defendem e submetem-se a bandeiras socialistas, diabolicamente plantadas em seus intelectos por esses frios e calculistas formadores de opinião.
No caso da imprensa, que sem dúvida exerce papel preponderante nessa estratégia, o processo vem já de várias décadas e envolveu o silenciamento e a marginalização de pensadores de direita e o domínio das universidades e dos grandes meios de comunicação, alguns dos quais, embora mantivessem apoio a um certo liberalismo econômico, alavanca de qualquer desenvolvimento, fecharam-se na defesa de um progressismo socialista que resultou na pior crise já vivida pelo país – não econômica nem social, como muitos pensam – mas efetivamente moral. Curioso que o próprio regime militar dos anos 60 e 70 colaborou para isso, uma vez que permitiu que seus opositores usassem dos meios de comunicação como válvula de escape às suas angústias. Era o que o General Golbery de Couto e Silva defendeu como Teoria da Panela de Pressão, pela qual o Estado combateria a guerrilha comunista, mas não o seu braço cultural, temendo que o combate simultâneo traria consequências maiores. O resultado foi a vitória da guerra cultural, com a doutrinação marxista de toda uma geração que, a partir dos anos 90, passou a dominar o país.
Mas, se por um lado o cenário é alarmante, por outro começa a dar sinais de contraponto, por meio de um cada vez mais crescente surgimento de expressivas lideranças de direita no país, não somente sob o ponto de vista liberal, mas principalmente conservador. Queiram ou não, achem-no ou não louco, é inegável que um dos maiores artífices intelectuais desse arroubo de conservadorismo no Brasil foi o filósofo, escritor e professor Olavo de Carvalho. A semente por ele plantada em seus alunos gerou e continua gerando uma plêiade que, embora às vezes nem o conheça nem siga, sem dúvida foi por ele influenciado.
A esse processo soma-se gente de peso: o trio do programa “Os Pingos nos Is” da Jovem Pan, Augusto Nunes, José Maria Trindade e o genial Alexandre Fiuza; ex-globais como Alexandre Garcia, Cláudio Lessa e Luís Ernesto Lacombe; os jornalistas Adrilles Jorge, Rodrigo Constantino e o articuladíssimo Caio Copolla, verdadeiro prodígio na comunicação; além de gratas surpresas como a medalhista olímpica Ana Paula Henkel, que se firmou com categoria entre os analistas políticos. Entre estes corajosos estão alguns católicos, como os jornalistas Allan dos Santos e seu portal “Terça Livre”, e Bernardo Küster. Até no campo da história pode-se hoje contar com alternativas importantes, como o canal “Brasil Paralelo”, que, com uma equipe de fôlego e produção gráfica invejável, apresenta uma outra visão da história, dissociada do viés socialista.
É evidente que os grandes jornalistas e meios de comunicação do país, como as desmoralizadas Organizações Globo e o jornal Folha de S. Paulo, e até o jornal O Estado de São Paulo, acostumados a nadar de braçada por muitos anos na moldagem da mentalidade brasileira, estão esperneando, impotentes diante da força das mídias, enquanto tentam a todo custo – e contando com a valorosa ajuda das Cortes Superiores – barrar a livre manifestação daqueles que contrariem seus interesses “sociais”. E estereotipando os que deles divergem de reacionários, racistas, negacionistas, nazistas, fascistas etc., além de propagadores de notícias falsas, as famigeradas “fake news”, assim estabelecidas a critério das tendenciosas agências de checagem.
Confesso que sou um pouco cético em relação a esse avanço, pois o aparelhamento de esquerda das nossas instituições é muito grande, imenso, e levaria muito tempo para uma efetiva depuração das consciências. Mas não deixa de ser animador ver esses até agora silenciosos mostrarem a cara, defendendo valores que alicerçaram a sociedade ocidental, eminentemente cristã. O que era impensável 10 anos atrás!

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