A pandemia nos ensinou que família é Igreja
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O isolamento social que estamos obrigados a cumprir em virtude da pandemia do coronavírus, oferece uma oportunidade de vivenciarmos um importante aspecto da identidade cristã católica, que é a Igreja Doméstica. Pode ser um termo novo para muitas pessoas, mas o fato é que a própria Igreja já fala disso há muito tempo. Na verdade, a Igreja nasce de forma doméstica.
Como explica o padre brasileiro Arthur Freitas, doutorando em Teologia Dogmática, na Espanha, “a igreja cristã foi estabelecida em seu início em pequenos grupos e pequenas comunidades, chamados ‘domus eclesias’, que eram igrejas domésticas, na tradução. Eram famílias que se reuniam em pequenos grupos, pequenas comunidades nas casas, no tempo que não era permitido aos cristãos realizar o culto em templos. Por isso, a primeira forma da Igreja cristã era a forma familiar, nas casas.”
É em nossas casas, em nossa família, que temos a oportunidade de vivenciar a essência da vida cristã: a vida em comunidade. A família é o lugar em que podemos ser nós mesmos, com nossas virtudes e imperfeições, e sermos amados por aquilo que somos. É o lugar privilegiado da vivência dos valores do Evangelho, que devem ser transmitidos, sobretudo, pelo exemplo. “Na família, como numa igreja doméstica, devem os pais, pela palavra e pelo exemplo, ser para os filhos os primeiros arautos da fé” (Lumem Gentium, 11). Os bispos latino-americanos reafirmaram a importância da família e da convivência familiar: “dentro do território paroquial, a família cristã é a primeira e mais básica comunidade eclesial. Nela se vivem e se transmitem os valores fundamentais da vida cristã” (Documento de Aparecida, 204).
Este período em que as relações familiares se intensificaram, com as pessoas passando mais tempo em casa, a família tem enfrentado desafios constantes na convivência cotidiana, na rotina da casa, na partilha de espaços e no respeito às necessidades de cada um. Este é um momento de olharmos para o outro de nossa própria família e reconhecermos nele o próximo de que nos fala Jesus, aquele que precisa de atenção e de cuidados e a quem devo amar, como a mim mesmo. Amar com suas virtudes e com suas limitações.
A família é, antes de tudo, formada por pessoas humanas, com dignidade de filhos de Deus. Como nos lembra padre Arthur Freitas, “independente da forma que ela tenha, é importante que a família e todos os indivíduos que a compõem redescubram sua dignidade e passem a viver a possibilidade do amor ao próximo e do perdão, todos os valores que Jesus Cristo nos deixou. Independentemente de sua configuração, toda família é chamada a viver essa realidade doméstica e confiar que Deus vem ao auxílio das nossas limitações, daquilo que não está aparentemente perfeito, e sua graça nos ajuda naquilo que nos falta.”
Mas, como nos alerta Dom Brendan Leahy, “agora que começamos a voltar à normalidade, embora uma normalidade nova, que inclui a retomada da celebração pública dos Sacramentos, seria uma pena se esquecêssemos a mensagem que recebemos neste tempo: a família é o centro da Igreja e deve ser nossa prioridade!”

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